O desejo da Terra prometida e – consequentemente o desejo do mar – eram vontades asseguradas, a todo instante, pelos religiosos no Brasil de 1964. É nesse contexto que encontramos o casal Manuel (vaqueiro) e Rosa. Os dois vivem uma vida de miséria no nordeste brasileiro; mas sempre acreditando na possibilidade da mudança (Rosa por vezes mais cética que Manuel).
A peregrinação do casal começa a partir do desentendimento do sertanejo com o coronel da cidade, no momento da partilha de gado. Já nesse momento do filme percebe-se a estratificação social da época: Manuel deve arcar sozinho com o prejuízo da morte de quatro bois que foram picados por uma cobra, no árido sertão nordestino.
O diretor** Glauber Rocha** inaugura o cinema novo no Brasil, que tem como slogan principal a frase: “ uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. Assim, Deus e o Diabo na Terra do Sol, é um filme que faz alusão aos problemas sociais, à realidade do Brasil e do povo; incorporando novas formas de linguagem. Além disso se interliga também com a situação da** Guerra dos Canudos** (que tem início no ano de 1896), com os cangaceiros e com a atuação da Igreja.
No início da peregrinação o primeiro personagem a entrar na vida do casal, nesse momento delicado e de desespero, é Sebastião – que representa o fundamentalismo religioso. O povo porém, não consegue encontrar consolo na religiosidade e muito menos na Igreja (que se torna totalmente desumana quando faz um acerto com Antônio das Mortes, para que ele dê um fim a revolução dos infiéis).
Obrigados a continuarem com a peregrinação, o casal se esbarra em Corisco, líder dos cangaceiros – que lutavam por terras graças às péssimas condições sociais – revoltado com a morte de Maria Bonita e Lampião, sedento de vingança.
Manuel recebe o apelido de Satanás e continua sua caminhada com o grupo e com Rosa (sempre ao seu lado); até que chega o momento em que Corisco começa a ser perseguido e é assassinado por Antônio das Mortes.
Naquela época milhares de sertanejos formavam grupos de jagunços ou se juntavam a líderes religiosos. Mas como muito bem nos recorda Sérgio Ricardo:
“esse mundo anda errado
que a terra é do homem
não é de Deus e nem do Diabo”
Seguem abaixo duas canções, que de alguma forma conversam com o filme:
- Sertão vai virar mar – Sérgio Ricardo
- Revolta – Olodum