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Science, bitch!


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Science, bitch!

Mesmo já tendo se passado 20 anos sem Chico Science, nosso xará continua um passo à frente do nosso tempo.

Esse mangueboy, eterno cientista da música brasileira, nos brindou com uma mistura inusitada de ritmos regionais (como o maracatu rural e embolada) com rock, soul, hip hop, funk e música eletrônica. Um verdadeiro banho de cultura pop. Ouso dizer que desde a Tropicália, só o Manguebeat foi capaz de impactar e mudar o rumo da produção cultural brasileira.

Um Satélite na Cabeça

O manguebeat teve sua origem a partir de um manifesto publicado por Fred-04 (líder do Mundo Livre S.A.) e Chico Science (frontman da Nação Zumbi). Na época as “artérias” da cultura do Recife estavam “bloqueadas”, e a cidade estava “morrendo” econômica e culturalmente. Portanto, era necessário revitalizar a cultura da cidade, misturando o tradicional com o moderno.

Modernizar o passado é uma (r)evolução musical

Caranguejos com cérebro e antenas parabólicas enfiadas na lama são os principais símbolos visuais deste movimento que revolucionou a forma de fazer e conceber arte. As antenas de TV enraizadas simbolizam uma forma de captar a cultura global sem filtros e adaptá-la a um novo cenário regional. Devido a principal bandeira do movimento manguebeat ser a diversidade, a agitação na música contaminou outras formas de expressão culturais como o cinema, a moda e as artes plásticas. O uso do chapéu de palha, típico da cultura pernambucana, aliado a acessórios da cultura pop urbana (street wear) como óculos escuros (gigantescos), camisas estampadas (sim, eles usavam full-print), tênis de skate e colares coloridos produziu um efeito visual acentuado em seus integrantes.

Hoje, os mangueboys e manguegirls são indivíduos interessados em hip-hop, colapso da modernidade, caos, moda, Jackson do Pandeiro, rádio, sexo não-virtual, sabotagem, música de rua, conflitos étnicos, midiotia, Malcom Maclaren, Os Simpsons e todos os avanços da química aplicados no terreno da alteração e expansão da consciência.” (Trecho do manifesto Caranguejos com Cérebro).

Vale lembrar que nessa época mercado nacional de discos estava mais interessado em “segurar o Tchan” do que em fazer música com conceito. A proposta do movimento manguebeat era clara: desorganizar a música brasileira, misturar tendências, para só então reorganizá-la criando uma cena musical tão rica e diversificada como a biodiversidade dos manguezais. E conseguiram!

A Lama da Manguetown

O Recife foi apelidado de Manguetown, a grande metrópole pernambucana que vivenciou este momento de profunda efervescência artística.

Andando por entre os becos
Andando em coletivos
Ninguém foge ao cheiro sujo
Da lama da Manguetown

O cheiro sujo do mangue, onipresente na cidade, foi a metáfora que o manguebeat encontrou para escancarar os problemas do Recife.

 

Chico Science é daqueles cometas que só passam pela terra a cada 80 anos e despertam a simpatia de todo mundo! Duvida?  Se você gosta de literatura regional (Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Ariano Suassuna) vai encontrar referências no velho Chico. Se a sua praia é a soul music (James Brown, Grandmaster Flash, Africa Baambaataa), pode comemorar pois o legado do mangueboy é um prato cheio. Mesmo se você for do metal extremo vai perceber que até o Sepultura se inspirou nas batidas do maracatu para criar o album Roots.

 
 
 

Gilberto Gil considera o legado de Chico como “o que surgiu de mais importante na música brasileira nos últimos trinta anos” e eu concordo com ele.

Francisco de Assis França, um verdadeiro cidadão do mundo, teve uma carreira breve e intensa mas que deixou um imensurável valor para nossa arte: Um maracatú que pesa uma tonelada.

Sempre certo na contramão, Chico mostrou que é possível ser emocionalmente cerebral!


Tags

chico science, manguebeat, música brasileira