Dia da Mulher Chico Rei: “11 perguntas que toda feminista já ouviu!”
Eram pra ser 8 perguntas, mas é tanta coisa. Vamos lá então! Qualquer dúvida, bora pros comentários.
1) “Se machismo é ruim, por que feminismo é bom?”
Machismo e feminismo não são ideias contrárias. O contrário de machismo estaria próximo da ideia de “misandria”, mas ainda assim não seria um contrário ideal. Feminismo é sobre igualdade política, liberdade e empoderamento coletivo. Machismo é sobre um gênero se colocando acima de outro, como uma organização hierárquica na qual homens têm mais importância.
Um conceito que vocês já devem ter ouvido, patriarcado. Patriarcado é um termo que começou a ser usado nos anos 60 e 70, que explica o pai, o homem, virando figura principal e primordial dentro dos espaços. Esse termo, além de deixar claro que prevalecem a existência e as escolhas do homem, é a manifestação política e visível do machismo e da rejeição às diferentes identidades e orientações sexuais. É basicamente o sistema em que estamos hoje. O gênero masculino e a heterossexualidade têm supremacia sobre outros gêneros e sobre outras orientações sexuais.
Por isso, ainda que fossem ideias contrárias, o feminismo não seria equivalente nesse momento a um “machismo reverso”. Não existe nenhum processo de opressão que justifique dizer que mulheres estejam quiçá em pé de igualdade com os homens. Lembrando que estamos falando de igualdade política e em consequência, de acesso.
2) “Por que não é melhor ser humanista do que feminista?”
Vamos com calma nessa. Humanismo é o sistema filosófico que coloca a humanidade em primeiro lugar, acima do sobrenatural, de deuses, de dogmas religiosos e das superstições. Humanismo não significa respeito humano, é um entendimento teórico da vida humana acima de preceitos religiosos, um pensamento filosófico sobre a existência. Ok? Ok Seguindo.
Quando você tem uma diferença na estrutura da sociedade entre homens e mulheres, não adianta apenas desejar que todo mundo fique bem. É preciso criar organizações que diminuam praticamente essas diferenças. Como? Campanhas de conscientização, compreensão da liberdade feminina, entendimentos gerais de que mulheres são gente.
Parece pouco? Talvez, mas um homem que bate, machuca e humilha uma mulher porque acha que ela lhe pertence, a vê como igual? Por isso, é necessário uma organização que considere a pauta específica das mulheres, o feminismo. Quando encaramos um sistema complexo como a nossa sociedade por uma ótica geral, não enxergamos grupos que precisam de olhares específicos, que tentem solucionar problemas que acontecem diariamente e embaixo do nosso nariz. Além do mais, o que te afeta uma mulher querendo ser livre? Fica o questionamento.
3) “Você não acha que existem menos mulheres nos cargos por que eles são distribuídos a quem é mais competente?"
Então, não. Nós já conversamos que o machismo é estrutural, certo? Nós vivemos em uma sociedade em que homens têm mais espaço em todos os locais de importância social e política. Todos. Isso reflete, consequentemente, na escolha dos cargos. Como queremos mais mulheres cientistas, por exemplo, se desde pequenas as meninas são ensinadas a não serem curiosas, a se comportarem, a não se arriscarem? Como queremos mais mulheres na política, por exemplo, se dentro do sistema patriarcal, como dissemos, mulheres são ensinadas a dar voz aos homens, falarem pouco, falarem baixo, a serem o que precisarem ser para terem um marido e filhos?
Como queremos mais mulheres nos espaços se ainda hoje a mulher não pode ser e gostar do que quiser, sem questionamentos? Por isso, num geral, ainda existem poucas mulheres em posição de gerência, desenvolvendo trabalhos pouco delicados, ou em alguns cargos não pensados para serem ocupados por mulheres. Se os critérios de escolha fossem exclusivamente por mérito ou competência, veríamos muito mais mulheres ocupando todos os espaços, em condição de igualdade.
4) “Não pode falar mais nada, tudo vira um problema!”
Existem tantos assuntos no mundo para serem falados! Tantas pautas que não incluem humilhar uma mulher, menosprezar suas habilidades, questionar sua capacidade, seu corpo, suas escolhas… É tanta coisa, a gente não precisa ser ofensivo.
Por que fazer piadas que machucam? Por que fazer comentários sobre os corpos? Será que nós realmente nos colocamos no lugar do outro?
Temos certeza de que na sociedade em que vivemos, não são só as mulheres que passam pelo processo de padronização, essa insegurança com o corpo, com as habilidades, com a competência. Não pode ser tão difícil sentir empatia.
Por isso a gente pode falar sim, de vários assuntos, de muitas coisas. A gente só não pode ser ofensivo mais e achar que é normal, que não prejudica. Já deu, né?
5) “Existem muito mais professoras mulheres do que professores homens, isso não é uma forma de repressão?”
Sinceramente, essa é só observar. Onde estão os professores hoje? Quais são seus salários, suas jornadas de trabalho, sua valorização?
Como funciona esse respeito e a autoestima do profissional de educação? Fora que mulheres são encaradas como naturalmente mães, professoras, nascidas pra cuidar, com delicadeza e paciência. O que se espera de um professor na nossa sociedade atual?
Então não, não é uma forma de repressão ou opressão dos homens. Muito pelo contrário. Pensem nas profissões mais valorizadas e bem remuneradas, por quem elas são exercidas e volte duas casas nesse pensamento.
6) “Não faz sentido ser um movimento de minoria se existem mais mulheres do que homens, né?”
Essa é muito boa! Quando a gente fala de minoria, é uma minoria política, não quantitativa.
Somos maioria numérica, mas mesmo assim, infelizmente, temos menos voz em todos os espaços decisivos. Isso basicamente explica todas as perguntas anteriores.
7) “Você acha mesmo que existe mulher que ganha menos do que homem nos mesmos cargos, com a mesma carga horária?”
A gente não acha nada, quem afirma é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
Fica a fonte pra quem não acreditar: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018 -03/ibge-mulheres-ganham-menos-que-homens-mesmo-sendo-maioria-com-ensino-superior
8) “Então homem não pode ser feminista?”
Olha, feminismo é uma luta política feita por mulheres, sobre mulheres e para mulheres. É um processo coletivo de equidade para que a gente crie condições de conquistar direitos, ainda que sejam a respeito dos nossos próprios corpos.
Efetuar a ligadura de trompas quando bem entendermos, poder amamentar na rua livremente, ter filhos quando quisermos, entre outros pontos que ainda lutamos.
Homens podem sim apoiar o feminismo. Uma das formas muito eficazes de exercer esse apoio é conversar com outros homens sobre essas questões, repreender comportamentos nocivos, repensar atitudes. Tudo isso vale.
Agora a alcunha feminista, essa é somente das mulheres!
9) “E as feminazis? Elas não têm meu respeito.”
Então, já começa errado. Esse termo é extremamente ofensivo, já que se direciona a um período histórico muito assombroso, o nazismo.
Normalmente esse nome é direcionado às mulheres que são mais “radicais” em suas palavras e ações quando exigem respeito e igualdade. O que é perfeitamente compreensível, já que em diversos momentos a luta por direitos que deveriam ser básicos é muitíssimo cansativa.
Inclusive, a maior parte das conquistas das mulheres que podemos observar hoje, são frutos de lutas dessas mulheres consideradas “radicais”, em diferentes momentos históricos. O feminismo é plural e amplo, somos milhões de mulheres em milhões de situações diferentes pelo mundo. Cada uma constrói a luta de acordo com as suas possibilidades.
Se você entende que homens e mulheres deveriam ter os mesmos direitos e os mesmos deveres sobre qualquer coisa ou situação, então você está de acordo com as ideias feministas. Fora que não é certo julgar a colega somente com a nossa ótica, né?
10) “Você é feminista mesmo? É tão feminina.”
Bom, primeiramente, uma coisa não tem a ver com a outra. As mulheres lutam também para que nossos corpos não sejam um cartão de visitas pra nada. O feminismo está aí também pra isso, para que os estigmas sobre as mulheres parem de determinar as situações a que elas podem ou não podem se envolver.
A gente discute sobre podermos estar com ou sem maquiagem, sobre podermos nos depilar quando bem entendermos, sobre não precisarmos ficar em saltos altos, ou em roupas que limitem nossos movimentos. Tudo isso diz sobre a existência de mulheres, mas não necessariamente sobre o que julgam ser o ideal de “feminilidade”, conceito, inclusive que cabe muita discussão.
É uma questão de liberdade, sem que isso vire uma obrigação. Se “ser feminina” fosse opção, mulheres que não são seriam perfeitamente aceitas. Não é isso que nós vemos.
11) “Se vocês mesmas não entram em acordo sobre o que é feminismo, por que eu tenho que concordar com isso?”
Existe um total acordo sobre o que é feminismo, o que não existe é uma unanimidade de ações. Como já foi dito, somos milhões de mulheres, cada uma existe e tem demandas.
O feminismo é um movimento político, que em sua própria base diz sobre mudar a raiz dos problemas, os processos e a forma de como é ser mulher e ser homem nas sociedades.
Mulheres negras, mulheres transexuais e mulheres gordas, principalmente, têm suas demandas diferenciadas, exatamente porque seus corpos e vidas sofrem outras leituras e outros processos de existência. Quem não sente na pele as mesmas questões não consegue compreender, mas por isso existe o respeito e a consciência dos privilégios.
O paradoxo da tolerância é não tolerar os intolerantes. Exigimos que todas as mulheres sejam livres e isso passa pelo pessoal, mas sempre é uma conquista coletiva.
O importante que é a luta aconteça e que a gente compreenda por quais mulheres lutamos. Que seja por todas, pra que sejamos verdadeiramente livres.
Pergunta bônus: “Se querem direitos iguais, por que não se alistam no exército?”
Ninguém deveria ser obrigado a nada, na real, mas não vamos nos nivelar para baixo. Não é porque infelizmente homens são obrigados, mulheres deveriam também. Alistamento militar deveria ser motivação, vontade e talento, não obrigação.
Até a próxima!