Um olhar sobre a memória do samba de Juiz de Fora
Fevereiro no Brasil é sinônimo de carnaval e essa festa tão originalmente brasileira desperta na gente memórias como na famosa frase “me lembro de outros carnavais”. Nesse clima nostálgico e embalado pelo ritmo do samba, convidamos dois músicos parceiros nossos para um cafezinho bem mineiro e um papo sobre a memória do samba da nossa terrinha Juiz de Fora.
Roger Resende é cantor, compositor e sambista com 35 anos de carreira e Carlos Fernando Cunha também é cantor e compositor, além de ritmista de escola de samba e professor na Universidade Federal de Juiz de Fora; juntos eles coordenam um projeto chamado Ponto do Samba. O Ponto é um movimento cultural aqui de Juiz de Fora que tem como missão valorizar a produção do samba, os artistas e essa cultura incrível que envolve o ritmo.
Começamos o nosso papo conversando sobre a origem da cultura de samba na cidade, Carlos nos conta que dentro de muitas pesquisas realizadas sobre a temática na região, percebe-se que a festa do Carnaval já no século XIX foi um berço importante para o samba na região e responsável por essa articulação entre os festejos o ritmo. Inclusive, uma das primeiras escolas de samba do país é daqui mesmo. A Turunas do Riachuelo foi fundada em 1934 a partir de um bloco carnavalesco e é um grande marco no início da popularização do samba na região.
Nessa época o samba era sinônimo de festa, no jornal quando se via “um samba” significava uma festa que geralmente reunia camadas populares da sociedade. Nesse período, o samba era ainda secundarizado na mídia e veio a se popularizar pouco a pouco com os blocos de rua que nasciam na cidade. Logo, o samba se afirmou em Juiz de Fora principalmente através das escolas de samba, que democratizaram a cultura do samba e auxiliaram no acesso ao entretenimento, além do fortalecimento da visibilidade do estilo em contexto local e na dispersão da produção juizforana no cenário nacional.
Um dos grandes nomes do samba desses primeiros anos áureos do samba, é Armando Toschi, o Ministrinho - um dos fundadores da Turunas. O cantor, compositor e instrumentista foi durante toda sua vida um incansável padrinho do samba local. Os anos foram passando e grandes nomes da cidade e região ganharam o cenário nacional, sambistas como Armando Fernandes Aguiar, o grande Mamão compositor de um dos sambas mais importantes no cenário nacional, “Tristeza Pé no Chão” - este gravado por grandes nomes da música, sendo Clara Nunes a intérprete mais notável da canção. Além dos saudosos Oceano Soares, Ari Barroso, Geraldo Pereira, Nilton Cocada e muitos outros. A proximidade com o Rio de Janeiro, fez com que muitos desses nomes fossem ganhar a vida nos festivais da cidade carioca; o samba evoluiu de forma paralela nas duas cidades e o Rio, por ser considerado a capital, atraía muitos profissionais da Zona da Mata mineira.
Falando sobre composição de samba, nossos entrevistados comentam que os processos são muito particulares de cada artista. Muitas vezes a melodia surge, ou a letra surge e historicamente muitos sambas surgiram em rodas. Eles contam uma curiosidade bacana sobre essas rodas de samba: muitas vezes chegava-se com o refrão potente de ligação e as pessoas na roda improvisavam outras linhas e dessa criatividade coletiva saíram muitos grandes sambas. Muitas vezes quem puxava a canção já tinha até ido embora quando o embalo ainda nem tinha terminado. Eles comentam que um samba muito famoso e pioneiro, o conhecido “Pelo Telefone” foi composto em uma roda de samba com mais de 30 pessoas.
Ah e vocês acreditam que eles começaram a escrever um samba bem aqui na Chico Rei na última visita que fizeram para o lançamento da coleção do Ponto do Samba? Muita honra pra nós! Daqui a pouco vamos ouvi-lo por aí.
Os anos levaram o samba de raiz mineiro para o Brasil e muitos projetos locais surgiram para manter popular essa paixão juizforana. A partir dos anos 2000, muitas iniciativas de resgate surgiram na cidade e ajudaram a fortalecer ainda mais o cenário regional. Roger e Carlos analisam que existem muitos compositores e intérpretes de altíssima qualidade na região, a história mostra e o presente também. Em relação ao momento atual, eles ainda acrescentam que Juiz de Fora é importante na produção de arte em geral na região e que é necessário um apoio mais contínuo a projetos culturais de preservação por parte do poder público e também da iniciativa privada. A promoção da cultura do samba em nossa comunidade tem muito a contribuir.
Ainda nesse recorte presente, Carlos comenta que o compromisso com a preservação histórica desse ritmo que reflete tão bem a cultura de miscigenação brasileira é fundamental para a manutenção de projetos de samba na cidade e sua preservação futura. Esse respeito ao passado inspira projetos futuros e é imprescindível para alimentar projetos culturais na cidade. Roger comenta que o samba é um estilo que reflete muito do Brasil, um ritmo popular, acessível e tão amado que faz parte do imaginário da sociedade de forma sólida.
Para o futuro, eles comentam grandes descobertas locais jovens que acontecem todos os dias na cidade, salientando que a qualidade da produção de samba juizforana se mantém e continua a crescer sempre.
Por fim deixam uma mensagem para os amantes do samba que estão começando ou querem fazer parte dessa comunidade: ouçam samba! Roger diz que toda a inspiração vem de ouvir a música e acompanhar a história, sem perder as inovações que aparecem todos os dias. Carlos conta que abraçar o samba é uma relação de respeito e compromisso por uma cultura que carrega tanto significado histórico.
O samba é um ritmo alegre, popular e parte fundamental na história da nossa cidade, e, claro, do nosso país. Conheça e valorize esse movimento cultural vivo com a gente!
Viva o samba de Juiz de Fora, viva o samba nacional!