True Detective e a virada de jogo das séries
Se você passou os últimos meses ligado no mundo do cinema e das séries, é mais do que provável que o nome True Detective tenha entrado em seu radar, isso se já não tiver assistido. A primeira temporada da série da HBO, predicado que já garante olhares diferenciados sobre ela, chegou ao fim em meados do primeiro semestre, deixando uma ótima impressão e aquele vazio que acompanha os fãs no período que separa uma temporada e outra.
Acontece que True Detective chama a atenção para um fenômeno que tem se mostrado cada vez mais evidente: as produções para TV estão, em vários sentidos, tomando o lugar da sétima arte. A série da HBO reforça o debate com argumentos pra lá de convincentes. A lista de qualidades começa pelo elenco: Matthew McConaughey, oscarizado por Dallas Buyers Club, filme que é rara exceção nos dias de hoje, e Woody Harrelson, duas vezes indicado ao Oscar, interpretam a dupla de protagonistas.
Não entrarei a fundo em questões técnicas, pois correria o risco de trocar os pés pelas mãos, mas é evidente que a qualidade da fotografia e da direção de arte na série deixa muitos blockbusters no chinelo. Como dizem, é coisa de cinema! O título de cereja do bolo, obviamente, fica com o enredo. Escrita pelo estreante Nic Pizzolatto e dirigida por Cary Fukunaga, a história acompanha uma dupla de policiais que investiga um crime que se arrasta por muitos anos. A forma não-linear como os fatos são narrados prende o espectador de uma maneira que há muito não vemos em filmes hollywoodianos. Acreditem, é difícil parar de assistir.
A ótima repercussão de True Detective retoma o assunto da ascensão das séries em uma época em que Hollywood repete fórmulas usadas à exaustão, além de insistir em remakes e franquias, apresentando raros lapsos de criatividade. Pegando embalo nas palavras do sempre contundente Miguel Sokol, da revista Rolling Stone, cada vez mais podemos perceber que enquanto o cinema sobrevive à base do 3D e de continuações manjadas, são as séries que estão revolucionando a ficção.
Atores consagrados do cinema estão se rendendo aos seriados não só pelo viés artístico, mas também pelo comercial. Inclusive, nos dias atuais, o termo “séries de TV” já não se mostra tão adequado, uma vez que elas saíram de vez dos televisores para ganharem um público ainda maior através de serviços de streaming, como a Netflix (que caminha a passos largos rumo a uma nova revolução no que diz respeito ao entretenimento), home-video e downloads, legais ou ilegais.
Além de True Detective, outros casos recentes ajudam a sustentar o argumento, e não precisa ser nenhum detetive Rust Cohle para chegar às evidências. Sem ir muito longe, basta pensar no burburinho causado pelo final de Breaking Bad, a mobilização em torno de The Walking Dead ou mesmo os debates entre amigos que a última season finale de Game of Thrones gerou. Tente pensar em um filme recente que teve tamanha repercussão e verás que a tarefa não é tão fácil. Requer muito mais que boa vontade e memória de elefante, meus caros!
Voltando a True Detective, os boatos sobre a mais do que confirmada segunda temporada, que contará com enredo e protagonistas diferentes da anterior, rolam a todo vapor. O principal deles é que Colin Farrell, Vince Vaughn e Rachel McAdams estariam muito bem cotados para encabeçar o casting. Precisa dizer mais alguma coisa?
Para me despedir, novamente lanço mão do raciocínio de Sokol: alguém aí duvida que a revolução e o futuro serão televisionados?