Tudo bem, eu sei que um emblema de coração, antenas e um martelo de plástico não são a caracterização mais óbvia para um super-herói. Mas, vamos combinar, que as grandes armas de Chapolin não têm nada a ver com suas roupas ou acessórios.
Sendo o Polegar Vermelho parte do universo de Chespirito, não poderíamos esperar menos do que um protagonista que vestisse a ironia e tivesse a sátira como principal ferramenta de trabalho. No dia 28 de fevereiro de 1973, as telas mexicanas exibiam o primeiro episódio da série independente de Chapolin Colorado.
Contrastando com os musculosos heróis que ganhavam o mundo com suas capas e poderes que não poderiam ser detidos por nada além de uma pedra, nosso anti-herói latino vestia um collant vermelho e uma cueca, e carregava algumas críticas sutis ao modelo capitalista norte-americano.
Não podemos nos esquecer que as criações de Chespirito têm suas raízes nas histórias e vivências mexicanas, que estão sempre presentes nos diálogos de seus personagens. Mas é importante destacar que a trama nunca teve como objetivo criticar os EUA como nação, tampouco incentivar a rivalidade.
Indo na contramão dos discursos agressivos, Chapolin aborda o assunto com bom-humor e sutileza, como afirma Roberto Bolaños no livro “O Diário do Chaves”: “Devemos estudar História sem gerar sentimentos de ódio; sem espírito de vingança. Não para piorar as coisas, e sim para melhorá-las. Em uma palavra: com Amor”.
Não é à toa que Chapolin tem como grande emblema o coração e ao longo de toda a história reforça que seus principais valores não se baseiam em vingança, força ou status, mas sim na justiça e no coração nobre.
Temos a tendência de nos inspirar nos grandes heróis norte-americanos, que por sua vez carregam na bagagem o amor pela sua própria nação e a exaltação de valores sustentados por uma cultura capitalista. Somos condicionados a adorar uma cultura que não fala sobre a nossa história e nem valoriza nossos próprios símbolos e é neste cenário que Chapolin surge.
Uma figura latina, que utiliza a sátira como ferramenta para abordar assuntos sérios de forma mais leve, com o objetivo de legitimar a história mexicana, criando seus próprios heróis.
Muito mais do que um herói com movimentos friamente calculados e uma astúcia jamais vista, Chapolin é também o símbolo de uma cultura rica que fala com amor e orgulho sobre a sua própria história. Sigam-me os bons!