Leia mulheres
Leia Mulheres, a leitura é poderosa e o texto deveria ultrapassar as questões de gênero, porém o mercado editorial não tem a mesma condescendência com homens e mulheres. Segundo uma pesquisa da Universidade de Brasília que engloba o período entre 1965 e 2004, mais de 70% dos livros publicados pelas grandes editoras brasileiras tiveram um homem como autor. O estudo avançou para o enredo das obras e os personagens retratados também se aproximam da realidade dos autores: 60% dos protagonistas são homens, sendo que 95% desses personagens são heterossexuais e 80% brancos.
A escritora Luisa Geisler, vencedora do prêmio Sesc de Literatura em 2011 sob pseudônimo masculino, defende, em entrevista à página do Sesc, que a leitura majoritária de autores masculinos “está literalmente formando uma visão de mundo a partir da metade da população. O olhar se torna limitado, além de reforçar um modelo machista que já existe, de encarar o ‘homem’ e a interpretação masculina como a norma.”
Um passeio pela prateleira das livrarias é significativo dessa diferença numérica entre as publicações de homens e mulheres. Em 2014, a escritora e ilustradora inglesa Joanna Walsh criou o projeto #Readwomen2014. O alcance foi mundial e aqui no Brasil a #leiamulheres inspirou o trio de amigas Juliana Gomes, Juliana Leuenroth e Michelle Henriques a formar um clube de leitura de autoras clássicas a contemporâneas. O Leia Mulheres tem encontros presenciais em livrarias e espaços culturais e não demorou para que a iniciativa alcançasse várias cidades brasileiras.
Podemos ser parte desta mudança a partir de pequenas iniciativas. Indicar um livro bacanudo de uma mulher, presentear amigos com essas novas descobertas para fazer com que a palavra se espalhe, conhecer o trabalho de editoras de pequeno porte que muitas vezes dão vazão à demanda reprimida nas grandes editoras. Eu contribuo com a minha dica, a poetisa Rupi Kaur, nascida na Índia e criada no Canadá e mãe dos livros Outros jeitos de usar a boca e O que o sol faz com as flores. Kaur é certeira ao escrever o feminino e o feminismo também em sua conta no Instagram.