Vale mais um interesseiro agindo, que dois militantes twittando

Comecemos a crônica mais uma vez com aquele círculo retórico/ratoeira-pega-leitor: polemizar, lançar premissa e respondê-la com temperinhos sarcásticos-bem-humorados-autodepreciativos. É um ridículo esse Escriba! Tão burlesco que, até pra fazer boa ação, usa de segundas intenções. Há tempos ele parou de jogar mãos aos céus, pedindo, pedindo e nada acontecendo. Sua credibilidade nas encruzilhadas também não tá lá essas coisas. Belzebu lhe processou por falsificação, porque assinava seus pactos com sangue alheio. E já que num tava conseguindo nada de cima, nem de baixo, resolveu-se por ser um interesseiro do bem.

Então... Há dez anos o Google vem alicerçando as bases do filantro-empreendedorismo. Soltaram uns milhões nas mãos dum tal de Larry Brilliant, à época escalado para diversificar a carta de responsabilidade social da empresa. A empreitada ia do aproveitamento do know-how, prototipando um sistema público de rastreio epidemiológico - tipo um Google das doenças que assolam o mundo... Até a constituição de um fundo para micro agricultores terceiro-mundistas - com juros mínimos e pagamentos homeopáticos a perder de vista. Doctor Brilliant foi um hippie iluminado, que passou parte da vida erradicando a varíola em povoados asiáticos. A outra face da sua dupla personalidade era a de um yuppie, voraz comerciante de novas tecnologias. Estranho, tudo muito estranho!

E você duvidando de que se Jesus voltasse, ele num iria trabalhar no Google. Acha que a empresa capturou um cabeção desses à toa, com dom ambivalente para filantropia e empreendedorismo? Tem dúvidas que o sistema de buscas por epidemias não era vitrine para uma potencial parceria governamental, implicando em verba federal de fomento... E que o calote não foi antevisto muito antes do empréstimo cair nas mãos do agricultor de Madagascar? Sobre a última questão, o capital não veio da carta de investimentos da empresa e, sim, do montante separado para publicidade - a benevolência do Google estampada no outdoor.  E que mal há nisso? Ainda que a real intenção esteja disfarçada, se estamos ajudando, qual o problema de embaralhar boas ações com empreendedorismo?

Esse Escriba safado mesmo já andou misturando as coisas. Quando meteu a besta em lançar um livro, casou as vendas com doações para um projeto que auxilia gestantes carentes. Resultado: vendeu pra caralho ao rearmonizar o clichê da corrente do bem. Não tem nada de espiritual, é puramente matemático: empreitadas pessoais, somadas a boas ações, positivam os resultados. Só não subtraem as más línguas, que salivam sobre o filantro-empreendedor, taxando-o como pilantra-empreendedor. Bom, sobre isso, foda-se: vale mais uma cabeça leve no travesseiro, que hemorróidas cozidas na cadeira da militância virtual. Aproveitando o ensejo, tira a mão de mim e me deixa ser interesseiro do bem! Conhece o Dona Cegonha? Já passou da hora né: https://www.facebook.com/donacegonhajf

Sobre o Escriba: entrou nessa de filantro-empreendedor também pra salvar sua alma, depois daquele livrinho PESADÃO que lançou. Cruzesssss! Olha aí, olha aí: