Pensemos a moda sob dois vieses distintos, mas complementares, posto que se tocam, a saber: individual e social.
Quando pensamos em moda no âmbito individual, podemos considerá-la como uma forma de expressão, ou seja, as roupas que usamos seriam veículos em vias de comunicar. Como comunicar é um verbo transitivo direto e indireto, as roupas, ao comunicarem, comunicariam algo a alguém, certo?
Em uma outra instância, podemos pensar ainda a moda como uma forma de distinção social no conceito mais bordieuziano da palavra, ou seja, o gosto em si é marcador identitário, vista a necessidade de separação e aproximação social até mesmo no universo da moda.
Ora, a história da moda nos mostra que a classe alta sempre foi responsável por ditar e legitimar tendências de estilo. Aliás, com a Revolução Industrial, as linhas de produção em massa tornaram mais fácil e rápida a incorporação de algumas tendências de modas passageiras e transitórias.
Assim, como produto direto das linhas de produção, temos, até hoje, estilos ditados pelo labor fabril, morrendo e nascendo várias vezes ao sabor dos ventos.
Como consequência disso, vemos grandes fatores que expressam o que é a moda na atualidade. De um lado, a produção massiva e efêmera de roupas, a partir da qual se consegue produzir peças em grande quantidade, mas não necessariamente de qualidade. De outro, a necessidade de se distinguir socialmente, criando-se, assim, o chamado fast fashion como conhecemos hoje.
Em outras palavras, o termo refere-se a diversos aspectos que envolvem a produção, a circulação e os valores por trás dessa moda:
- roupas de baixíssima qualidade;
- tendências com prazo de validade;
- aculturação;
- etiquetas sociais;
- consumo excessivo;
- poluição escancarada;
- moda de vitrine;
- estéticas efêmeras;
- produção enviesada;
- uso de matéria-prima de forma leviana;
- produção exacerbada de lixo;
- mão de obra escrava;
- irresponsabilidade ambiental;
- apelo visual;
- globalização.
Mas como responder e se posicionar a tudo isso? Simples, de uma forma totalmente contrária ao consumo rápido, a partir do movimento chamado slow fashion. Desse modo, é importante salientar que a slow fashion adentra o mundo da moda como uma forma de posicionamento e movimento ideológico em prol daqueles que consomem: eu, você, nós!
Slow fashion: aprendendo de forma fácil a moda consciente
O termo slow fashion foi cunhado pela escritora de moda Georgia Straight em 2004 e ganhou muito destaque em blogs de moda. É uma contrarresposta à moda de consumo rápido, que preconiza a fabricação massiva de roupas e a dependência de consumo.
Se hoje a moda é efêmera e rápida, agora, ela pode ser lenta. A moda deixa de ser uma pura e simples tendência e passa a ser narrativa. Não há motivos para correr, porque a moda slow fashion se comunicará com as nossas necessidades e ao que vestimos como indivíduos, carregados de particularidades.
Com a slow fashion, aprendemos a nos perceber enquanto indivíduos no e para o mundo para que, assim, possamos desenvolver o nosso estilo de forma ativa e não meramente passiva.
Agora, já possuímos a prerrogativa de não sermos mais bombardeados pelo que as grandes marcas dizem que devemos consumir. Pense bem, se você é autor da sua história, então por que ela tem que mudar na próxima estação?
Não tem, ao menos que você queira.
Estamos acostumados a consumir de forma descontrolada produtos sazonais, baratos e de baixa qualidade. No entanto, é preciso entender que custa caro produzir uma camiseta, por exemplo. O valor da mão de obra, a matéria-prima, o marketing e o design de uma vestimenta são caros.
Veja, então, que a lógica do consumo consciente diz mais respeito a se ter poucas peças, pagando pelo que elas valem de fato.
Assim, a slow fashion se consolida como uma alternativa social e sustentável no mundo da moda que prioriza o processo de produção, mantendo-o em pequena escala, além de elevar a confiabilidade e relevância de produtores locais e a prática de preços justos.
Moda sustentável: o que é?
É importante entendermos ainda que moda consciente e moda sustentável, embora tangenciais, são conceitos diferentes. Em linhas gerais, a moda sustentável não é um estilo e movimento modista propriamente dito, mas uma forma de produção.
Nesse sentido, a moda sustentável tem como escopo principal o uso de métodos e estratégias sustentáveis de produção, não poluentes ou que minimizem ao máximo o impacto ambiental, evitando, assim, a poluição dos lençóis freáticos. Confira alguns desses métodos:
- uso de matérias-primas naturais;
- uso de colas atóxicas;
- uso de tecidos Eco-Friendly [fibras orgânicas e biodegradáveis];
- reaproveitamento de materiais;
- valorização de qualidade, durabilidade e resistência;
- responsabilidade socioambiental.
Seja slow, seja consciente: 4 dicas práticas
Agora que você já aprendeu os conceitos mais básicos sobre a moda e o consumo conscientes, você deve estar se perguntando: como adentrar esse mundo praticando um consumo consciente e sustentável? É isso que você aprenderá agora!
Comece limpando o seu guarda-roupa
Limpar o guarda-roupa pode ser uma terapia para muitos. Desprender-se daquilo que não te serve mais é o primeiro passo para adentrar o mundo da moda consciente. E não só isso: quando damos aquela geralzona em nossas peças de roupas, conseguimos vislumbrar melhor o que usamos e também o que está ali parado, ocupando espaço nas prateleiras e em nossas vidas.
Mudamos todos os dias e é normal que, ao revisitarmos o nosso guarda-roupa, percebamos que algumas peças ali dispostas não nos representam mais, não só porque não nos cabem fisicamente, mas emocional, psicológica e socialmente.
Nesse sentido, o desapego de coisas que não mais nos representam é um grande sinal de amadurecimento e autoconhecimento. Se ficou na dúvida se vai usar ou não, bem, se você já não usou até agora, não será hoje que vestirá a peça. Então, doe sem medo, com carinho e amor.
Outra coisa a se considerar é a possibilidade de dar vida nova a algumas peças, colocando para fora suas habilidades criativas e de costura. Assim, você consegue uma roupa “nova” sem precisar buscar uma peça que não tem ainda.
Frequente brechós e se reconstrua
A verdade é que os brechós podem ser uma mina de ouro para aqueles que buscam práticas de moda consciente. Ali, encontramos várias opções de roupas para a construção de diversos estilos.
Em outras palavras, peças de roupa que encontramos em brechós e bazares são possibilidades estéticas únicas e singulares, visto que as vestimentas podem ainda ser customizadas, reconstruídas e reaproveitadas, a depender da criatividade do usuário.
Além disso, o prazer do garimpo é indescritível. Achar uma peça de roupa que dialogue com o seu estilo não tem preço, ainda mais considerando a exclusividade que as peças do brechó aportam. As vestimentas que você encontra ali são raras, dificilmente serão encontradas em araras de lojas de departamentos.
Por serem raras, são as melhores formas de representar um estilo individual. A moda fast fashion não traz apenas um padronização protocolar e etiquetada dos seus produtos, mas também uma padronização dos indivíduos que a consomem, dissolvendo todas as suas particularidades e especificidades
Ora, você já deve ter saído na rua e encontrado uma pessoa vestindo a mesma roupa que você estava usando. Isso porque o consumo rápido retira do indivíduo aquilo que ele tem de mais único e singular para transparecer e expressar aquilo que ele tem de comum. Logo, você é simplesmente mais um.
Em contrapartida, o consumo de roupas de brechós vem a te lembrar que você é único e que a sua narrativa não precisa e nem deve ser contada a partir de tendências e datas sazonais, você é o que é independentemente dos dias veranis ou invernais.
Vale ainda lembrar que, ao usar roupas de brechós, você economiza dinheiro e matéria-prima, além, é claro, de gerar menos resíduo para o planeta.
Valorize a produção local
A moda consciente está muito atrelada à produção local – uma resposta à globalização comercial. Ou seja, no fast fashion, grandes marcas padronizam a produção em larga escala, o que corrobora para a desvalorização do trabalhador, uma vez que grande parte da produção é automatizada. Ainda, influencia na desvalorização cultural, posto que tudo é igual independente da região.
Agora, quando você consome a produção local, consequentemente você responde ativamente à padronização da moda e contribui com a descentralização comercial, criando condições para a gênese de uma sociedade multilocal.
Nesse sentido, opte pelo consumo de peças de roupas de pequenos produtores locais que possuam uma produção transparente, na qual você vislumbra todas as etapas da confecção dos produtos que você usa.
Produções transparentes te possibilitam maior consciência das metodologias usadas no processo como um todo bem como a real origem da matéria-prima e da mão de obra demandadas. E uma forma de o saber é visitando o site do produtor.
Costure e/ou customize as suas próprias peças
Esta dica não poderia ser mais oportuna. Uma grande forma de fazer jus à moda consciente é criando as suas próprias peças de roupa. Reutilize, remende, costure, recrie e construa!
Sabe aquela limpa que fez no guarda-roupa?! Ao invés de descartar todos os itens, que tal ver potencial de reuso? Aquela camisa longa pode virar um vestidinho e aquele vestido furado na barra pode virar uma blusa bem descolada.
Seja criativo, mas de forma sustentável. A internet está cheia de dicas de “Faça você mesmo” para customização e transformação de peças de roupas. Mas, se para você a bricolagem é algo muito difícil, então vale a pena valorizar aquela costureira autônoma e investir no trabalho local.
Bem, sabemos que essas dicas podem mudar totalmente a sua experiência de mundo, tornando-te uma pessoa menos passiva e alienada ao que tange o mundo da moda. Mas, agora, queremos ouvir de você: como a fast fashion tem impactado a sua vida? Você já é um adepto da moda consciente? Conte para nós!
Para mais dicas como essas, não deixe de acompanhar as publicações de nosso blog. Aqui, postamos conteúdos semanalmente, sempre preocupados em trazer um entretenimento de qualidade para você.
Até a próxima!