Essa carta é a minha forma de te dar um abraço em tempos pandêmicos. E é também uma tentativa de reflexão menos solitária - um "tamo junto" um pouquinho mais enfeitado, sabe?
Dia 8 de março é bonito. Faz a gente se sentir importante sem se sentir culpada pelo destaque, afinal de contas todas as mulheres do mundo estão sendo celebradas. - e a gente merece, uai.
Mas, por aqui me parece que tudo anda meio fora do lugar. Por aí também? Não é ingratidão. Pelo contrário. Eu agradeço as flores, os chocolates, as mensagens de admiração, as matérias sobre mulheres guerreiras que se viram nos 30. Mas, muito mais do que essas formalidades, agradeço às pessoas que me ouviram sem que eu precisasse ser duas vezes mais assertiva. Às pessoas que somaram vozes comigo e foram companhias indiretas, porém fundamentais nesse ano tão confuso.
Já andei pensando em muitas realidades paralelas. Mas em nenhuma delas eu escolhi não ser mulher. Me encontrei nessa "forma". E como é importante isso de se sentir identificada e representada por algo... Ser mulher é um eterno dilema. E só a gente sabe das belezas e dos riscos de andar por aí com o vento no rosto e olhando sempre por cima dos ombros.
Penso bastante também sobre o fato de 'mulher' ser justamente uma característica que une todas nós. Estranho, né? Porque ser mulher significa tanta coisa diferente. E esse "papel" se dá de tantas formas. Formas essas que são impossíveis de serem englobadas em algum estereótipo ou persona. E não existe ninguém no mundo que se atreva a escrever um manual sobre isso, seria estúpido e uma perda de tempo horrorosa. (e se já existe e eu não conheço, que assim continue, pois eu dispenso.)
Bom, mas voltando ao 8 de março: pra mim esse dia carrega um peso que vai além da sua importância. Eu sempre tive dificuldade em simplesmente sentir essa satisfação de estar sendo lembrada e celebrada em todo o planeta. Será que é possível me desconectar por alguns segundos das razões pelas quais essa data existe? Elas me fazem ficar ainda mais alerta e atenta.
Mas aí, ao mesmo tempo que eu penso nisso tudo, eu também vejo que tudo bem. A gente tem 364 outros dias vestindo a nossa identidade. Vivendo a nossa vida. Lutando as nossas lutas - particulares e coletivas. O 8 de março pode ser o nosso dia de descanso, não pode? Um dia para aproveitarmos os holofotes triplicados fazendo aquilo que sentimos que faz sentido. Da maneira que estiver ao nosso alcance. E tudo bem.
O que sempre foi importante pra mim e se tornou ainda mais no último ano é o apoio mútuo, a união e a empatia. Estarmos umas pelas outras, sabe? A gente carrega sim um fardo que nos exige força, mas isso não precisa ser sempre pesado. Que a gente compartilhe essa carga sem deixar de compartilhar afeto. Não dá pra ser do jeitinho que a gente queria, mas não pode simplesmente “deixar de ser”. É importante se permitir agradecer, sonhar e compartilhar, principalmente em tempos desafiadores.
Que você possa sempre se lembrar disso e que esse abraço chegue inteiro por aí!
Um feliz dia pra mim, e um feliz dia pra você.