A ficção eterniza o que há de mais curioso na personalidade humana. De formas ora reconfortantes ora desafiadoras, nos inspira para a vida através daquela personagem memorável que todos levamos no coração como modelo, como amigo, como amuleto...
Até recentemente na história da humanidade, a figura feminina foi sub-representada na ficção, e as personagens femininas – muitas vezes construídas por homens – eram planas, acessórios narrativos que negavam a completude da identidade da mulher como agente do seu destino, capaz de transformar histórias e protagonizar a vida.
Felizmente, artistas de diversas épocas e plataformas deram com o pé na porta para instigar gerações e abrir o caminho. Através das criações delas e deles, as figuras femininas puderam gravar sua personalidade na cultura pop. De Jane Austen a George Lucas, trouxemos uma lista de personagens femininas que você vai adorar conhecer!
Imperator Furiosa - Mad Max (2015)
A franquia de George Miller sempre foi carregada de testosterona, com personagens que às vezes flertavam com vários clichês de virilidade. Mas quando o cult estrelado por Mel Gibson ganhou uma sequência contemporânea, Max Rockatansky perdeu seu posto de Guerreiro da Estrada para a personagem vivida por Charlize Theron, Imperator Furiosa.
Poderosa e imponente dos dois lados da linha, Furiosa é a personagem mais memorável de Mad Max: Fury Road (2015). Líder do exército de Immortan Joe, faz o arquétipo do personagem misterioso e intimidador que é colocado diante de importantes escolhas morais, num páreo de personagens como Darth Vader.
Furiosa se volta contra o chefe da Cidadela e todo seu poderio para libertar as cinco esposas de Immortan Joe, mulheres raptadas e abusadas constantemente para gestarem herdeiros saudáveis para o déspota pós-apocalíptico. Em uma metáfora importante para o debate sobre os direitos civis das mulheres, ela entra em uma jornada pela libertação do corpo feminino.
Imperator Furiosa foi ensaiada como uma personagem menor no início dos rascunhos de Miller, mas ele e Charlize construíram a personagem mais cativante e feroz do universo de Mad Max. A recepção de Furiosa foi tão boa que, em outubro de 2020, foi confirmado um filme solo da personagem, interpretada por Anya Taylor-Joy.
Amélie Poulain - O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001)
Amélie muitas vezes parece uma personagem típica de Saint-Exupéry, pai do Pequeno Príncipe, vivendo em seu universo deslocado, solitário, mas cheio de pequenos prazeres e maravilhas.
Tudo nessa personagem interpretada por Audrey Tautou é cativante e inspirador; em especial a forma como ilustra com carinho as pessoas do seu convívio e faz, em meio à sua timidez e perseverança, transformações encantadoras na vida de cada uma delas – e na sua própria.
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) é um herdeiro genuíno da tradição do Nouvelle Vague francês, e Amélie Poulain tem um pouco de cada um dos melhores ingredientes do gênero. Da criatividade narrativa à estética e à trilha sonora (tudo digno de diversos prêmios). Você precisa conhecer e se apaixonar por essa personagem feminina que virou um clássico instantâneo!
Capitu - Dom Casmurro (1899)
Indo da personagem fofa para a Femme Fatale da literatura brasileira. Capitu, a personagem do livro mais popular de Machado De Assis, divide todo mundo que conhece a obra.
Narrada a partir da visão turva de Bentinho, a verdadeira Maria Capitolina Santiago precisa ser encontrada e separada dos delírios desse narrador nada confiável. O eterno “traiu ou não traiu” é só o caminho que nos leva a analisar e reanalisar Dom Casmurro e a personalidade misteriosa de Capitu. Vale a pena mergulhar na psique dessa personagem tão cativante.
Capitu é uma das grandes personagens femininas da literatura brasileira e a mais importante criação de Machado de Assis, que rende até hoje análises apaixonadas sobre sua figura blasé e cheia de poder.
Leia Organa - Franquia Star Wars (1977)
Uma das coisas mais interessantes ao acompanhar a saga cinematográfica de Star Wars, de George Lucas, é observar como as personagens evoluem. Leia Organa, que foi imortalizada por Carrie Fisher, foi de personagem aristocrática a guerrilheira e general espacial. Um arco fascinante que acompanhamos por 9 filmes.
Leia Organa foi retratada em todas as mídias possíveis, sempre como uma das personagens favoritas do público, seja como líder em cenas de ação ou sex symbol (e aqui entram os flashbacks traumáticos do fatídico Episódio VI, que marcou o movimento tão criticado de sexualização da personagem).
Simplesmente não havia quem não lembrasse dos cabelos inspirados nos índios Hopi e da personalidade cada vez mais dominante de Leia, até seu fim trágico na saga, que coincidiu com a morte da atriz – um dos momentos mais tristes e sentidos pelos fãs.
O trio que formou com o irmão Luke e o piloto Han Solo é o símbolo maior da franquia, e a personagem ganhou uma série de stand-alones nos quadrinhos.
Shosanna Dreyfus - Bastardos Inglórios (2009)
Assassinar Hitler é uma constante em diversas obras de ficção, das mais humorísticas às de tom mais grave. E Bastardos Inglórios tem um pouco de tudo isso, graças ao toque de Midas infame de Quentin Tarantino e sua trupe de atores que faz toda a insanidade acontecer.
Mélanie Laurent embarcou na obra de Tarantino e deu vida a uma das personagens mais marcantes de sua cinematografia. Shosanna Dreyfus é uma judia francesa que perdeu a família durante o regime nazista e elabora no melhor estilo vendetta a sua investida.
A construção e execução de seu plano rendem o melhor núcleo do filme, e sua conclusão, uma das melhores cenas do cinema contemporâneo!
Elizabeth Bennet - Orgulho e Preconceito (1813)
A heroína de uma das obras mais lidas e adaptadas do mundo não podia faltar nesta lista. Afinal, ela é uma das pioneiras!
A própria Jane Austen fazia uma série de comentários durante os intermináveis rascunhos de sua obra-prima comentando com fascínio o desenvolvimento de Elizabeth Bennet.
Lizzy estava à frente dos tempos da própria Jane, e a sua personalidade espirituosa, questionadora e muitas vezes sarcástica deu voz a uma série de observações sagazes e libertárias que têm eco até os dias de hoje.
Sua paixão por livros, a liberdade de espírito e a capacidade de análise da psique humana são uma jornada de formação para mulheres de muitas gerações. De Lisas Simpsons a Bridget Jones, Eliza fundou um dos arquétipos mais amados e admirados da ficção!
Alice - Alice no País Das Maravilhas & Alice Através do Espelho
Lewis Carroll, com suas ideias ora coloridas, ora macabras, coloca Alice em uma jornada fascinante por um lado obscuro da mente e das relações sociais entre pessoas. Suas duas obras renderam diversas adaptações e profundas análises de todo tipo.
A personagem de Alice enfrenta a insensatez, a tolice e a intransigência de diferentes tipos de adultos, encarnados pelas personagens fantásticas e psicodélicas que encontra em sua jornada pelo espelho.
A forma com a qual Alice lida com sagacidade e criatividade com os dilemas do estranho e toda a estética fantástica, tão tipicamente britânica, fazem dela uma personagem profunda, com diferentes significados e análises em cada fase das nossas vidas. Justamente aquilo que faz de um clássico, um clássico.
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