Dizem que há três coisas que um homem deveria fazer em sua vida para se sentir completo: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro, não necessariamente nesta ordem.
Bom, se formos levar esta máxima em consideração, podemos dizer que Hugh Laurie já teria cumprido sua missão entre os mortais. Mas esqueceram de dizer que a regra para a imortalidade é bem diferente…
Muito além da carcaça mal humorada de House, o ator britânico (sim, ele imita o sotaque americano muito bem) prova que possui a habilidade de dar voz a outros personagens complexos ao cantar clássicos do blues como se possuísse a alma de um negro sulista às margens do Mississipi e ao escrever seu romance de estreia na literatura policial.
Se você gosta de personagens sarcásticos, conspirações e banhos de sangue, este é o livro certo! Misturando humor com uma eficácia hollywoodiana, Hugh Laurie fez sua entrada talentosa e triunfal no mundo da literatura. Em O Vendedor de Armas (livro escrito há mais de 10 anos mas só lançado em 2010) percebemos uma intriga apaixonante de um personagem que não será esquecido tão cedo. O protagonista Thomas Lang não é aquele mártir noir (a la Sin City) dono de um mau humor irresistível. Ele é apenas um homem sarcástico que não leva nada a sério, faz piadas nas horas erradas e não tem medo de quem deveria ter. Quando cai, cai atirando. Falando desta maneira ele até que se parece com Gregory House, mas eu te garanto que este personagem é muito diferente.
Apesar de eletrizante do início ao meio, o final do livro é meio confuso, mas acredito que seja por conta da continuação (ainda sem data de lançamento) prometida pelo autor. De qualquer forma, a leitura vale cada palavra.
Mas ultimamente, o projeto que tem ocupado a maior parte do tempo deste artista deve-se ao seu amor pela música. Apaixonado pelo blues de New Orleans, Laurie gravou dois álbuns inspirados nas raízes musicais deste local sagrado.
Um punhado de canções que revelam o imaginário folclórico-musical da região da Lousiana no sul dos Estados Unidos. É nítida a evolução dele como cantor e instrumentista desde Let Them Talk, lançado em 2011, para Didn’t It Rain, de 2013. Mais que uma celebração, esta é quase uma viagem por um museu analógico em plena era digital. É um tributo à música norte-americana, mergulhando profundamente nas raízes das big bands, dialogando com jazz, tango e outros ritmos latinos.
Destaque para a soturna e ácida faixa Wild Honey e para o belíssimo dueto espanglês com Gaby Moreno em Kiss Of Fire, um tango originalmente chamado El Choclo, que resgata a versão de 1952, com Louis Armstrong e Connie Francis nos vocais.
Em outras palavras, Hugh Laurie é um artista completo que extrapola as fronteiras da arte e mostra que ainda tem muita coisa boa pra mostrar, pois o segredo de seu sucesso consiste em nunca parar de buscar novidades.
WILD HONEY