Meu primeiro contato com a escritora espanhola Maria Dueñas foi por mero acaso. Ou talvez por culpa do destino que me fez encontrar esta pérola da literatura castelhana… Era uma tarde de domingo e aproveitei para gastar um tempo numa livraria antes da sessão de cinema começar.
Devo admitir que desta vez não foi a sinopse do livro, nem a capa, nem o cheiro (sim eu adoro o aroma de páginas novas) que me atraíram de primeira, mas uma frase em especial me chamou atenção: “María Dueñas é considerada o novo cânone da literatura européia por sua prosa hipnotizadora e a forma cheia de imaginação e delicadeza com que combina fatos e personagens reais com ficcionais”.
Por essas e por outras razões, já comecei a ler este livro com grandes expectativas. Não tenho preconceito contra Best Sellers, muito pelo contrário. Devoro-os ainda mais rápido. Mas apesar de aclamado pela crítica e sucesso de vendas no mundo todo, este é um daqueles livros para se ler em doses homeopáticas. A verdade é que cada história possui um ritmo diferente e deve ser absorvida de forma única em cada momento.
O romance é um misto de biografia, história, suspense, aventura e drama que fascina e flui de forma poética. Narrado em primeira pessoa, percebemos de cara o cuidado com as palavras fazendo com que o leitor consiga ouvir a respiração daquela frágil e pobre trabalhadora que um dia se apaixona loucamente e parte de Madri para o romântico Marrocos, meses antes da Guerra Civil Espanhola (1936- 1939), para ter sua inocência triturada pelos caminhos da vida. Até que se transforma uma vez mais para mergulhar, durante a Segunda Guerra Mundial, em um novo mundo, agora repleto de espiões, impostores e fugitivos.
Opa. Espere um pouco! O alerta crítico de clichê literário apitou em minha cabeça. A expressão “romântico Marrocos” me deu até uma náusea aqui! Quem ainda acredita em Casablanca? O que pode haver de romântico numa sociedade machista em meio a uma guerra? Tive que lutar contra o preconceito contra as histórias de época em lugares pseudoparadisíacos. Pois não é que a autora conseguiu desmitificar este cenário? Através de um mergulho nas entranhas mais podres do local, ela revela os costumes, a (falta de) higiene e principalmente a vida privada de um país devastado por interesses díspares..
A verdade é que depois que se conhece Sira Quiroga, a encantadora costureira que protagoniza esta aventura, é impossível esquecê-la. De simples cidadã à contribuinte considerável de uma guerra. De inocente e frágil para forte e segura de si. Sira é o tipo de personagem que evolui ao longo da trama e faz com que você evolua junto. Um livro que faz com que você sofra, comemore e torça por ela. Ela escreve sua própria história e aprende a dançar conforme a música. Ela se transforma sem perder sua essência, evolui sem deixar de ser ela mesma e é isso que torna esse livro tão cativante.
Em outras palavras, esta obra nos relembra o quão pouco sabemos a respeito do que a vida nos reserva, e como uma decisão tomada aqui e outra deixada para depois acolá podem reverter em uma guinada agradável ou não na nossa história.
Se você ainda ficou com dúvidas sobre a leitura, aqui vai um trechinho do primeiro parágrafo:
Não se assuste! São 470 páginas, letras miúdas, cheio de fatos históricos e poucos diálogos. Ma svocê vai querer devorar cada palavra com a sensação de quero mais!
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