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Movimento Genderless


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Movimento Genderless

De um tempo para cá, observa-se que a sociedade num todo vem passando por uma série de mudanças em seu comportamento, seja no sentido político, econômico e principalmente social, que sofre influência da maioria deles. À medida que essas mudanças vão acontecendo, movimentos sociais surgem automaticamente, a fim de se posicionarem contra ou a favor de uma determinada situação.

Movimentos como o feminismo ganham espaço a cada dia, trazendo à tona inúmeras reflexões que são pertinentes para esta parcela da sociedade há anos, e, com o tempo, através de muita persistência, acabou atingindo um patamar de grande visibilidade e pessoas que apoiam a causa. A moda, assim como outras áreas, sofrem influências constantes por parte desses tipos de movimentos, pois lida a todo momento com os anseios e desejos da sociedade, inclusive com os destas partes.

Campanha Genderless – Marca Desconhecida

Além do movimento feminista, ou até mesmo junto a este (se é que podemos nos expressar desta forma), a “definição de gênero” é outra questão que vem ganhando destaque e discussões em todo o mundo. Com o passar dos anos, e uma facilidade maior de acesso à informação, muitas coisas se tornaram mais claras. A humanidade veio se despindo das amarras sociais e conquistando espaços que antes eram vistos e taxados como pecado, crime, vergonha etc.

Hoje em dia, com uma maior aceitação em relação a essas questões, nos deparamos com inúmeras novas tribos, muitas delas quase que desconhecidas pela maioria. Poderíamos passar horas tentando achar uma resposta para isso, e mesmo assim seria em vão. Afinal, quem somos nós para decidir o gênero de uma pessoa? Mas, de certa forma, pode-se usar a moda para transitar na linha tênue entre os pré-definidos gêneros, masculino e feminino. E é exatamente nisso que muitos estilistas vêm trabalhando através de coleções e campanhas publicitárias, até mesmo a fim de atrair diferentes públicos.

Pagú – Militante Feminista na Década de 1930

Nos últimos meses, um assunto vem chamando a atenção no mundo da moda, o Movimento Genderless. Se traduzirmos ao pé da letra, é algo que não possui características ou qualidades baseadas no sexo. Deixando para trás o termo “unissex”, este movimento vem dando as caras há algumas temporadas, porém, não se firmava como tendência, e como sempre, apenas os “fashionistas” arriscavam-se a vestir-se de acordo com o estilo do movimento. No final de 2015, com a temporada de inverno brasileira sendo apresentada e a moda gringa mergulhada nesta tendência, o público acatou e a cada dia que passa ganha mais espaço nas ruas.

Assim como toda tendência, o genderlees também possui características peculiares para a composição dos looks, que em geral são cores, shapes (formas), tecidos etc. Neste caso, usa-se cores neutras que vão desde o preto, tons de nude, tons de cinza, azul marinho estampas geométricas, gráficas, artsy etc. A alfaiataria é a grande chave deste estilo, pois são peças que veste bem ambos os corpos e com alterações nas modelagens se adequam melhor às silhuetas, neutralizando as formas curvas dos corpos femininos e ressaltando as retas do masculinos.

Peças Genderless da Coleção de Rad Hourani

Apesar do movimento genderless estar em alta, muitos estilistas não acreditam que de fato seja uma mudança duradoura. Em entrevista ao site da Lilian Pacce, questionado sobre a androginia e esta questão da neutralidade dos gêneros na moda atual, o estilista Alexandre Herchcovitch diz: “É um assunto que vem e vai, não é um assunto novo. Eu tenho falado que temos que respeitar os corpos masculinos e femininos, não tem como, anatomicamente, uma roupa servir no outro, a não ser que a mulher use uma roupa masculina, porque o homem na feminina não vai dar muito certo.”

Acredita-se que essa estranheza em relação ao homem vestir roupas denominadas femininas vem de uma herança cultural que nos foi imposta, portanto, não nos agrada a silhueta de um homem usando saias, por exemplo. Porém, há adeptos do uso de saias que se sentem muito bem com a peça, como é o caso do ator Jaden Smith, filho do renomado ator Will Smith, que inclusive estrelou a campanha feminina da marca Louis Vuitton. Em inúmeras entrevistas, o ator diz não ver diferença de gênero em roupas e que para ele é normal, como vestir uma calça jeans.

Jaden Smith – Campanha de Verão 2016 da Louis Vuitton

**Jaden Smith **

Assim como qualquer mudança, há quem aprove e quem desaprove, mas se depender dos estilistas, essa moda já pegou! Marcas famosas como a Givenchy e Gucci trazem esse conceito há algumas temporadas, através de peças florais e rendadas para homens, com direito a laçarotes de cetim, saias e bordados. Para mulheres, peças do vestuário masculino que vão desde as camisas de botão aos ternos e gravatas, passando por sapatos e até mesmo suspensórios. Assim como as grifes citadas, Chanel surpreendeu o público em seu desfile de inverno 2016 ao finalizar a apresentação com sua noiva usando terninho e calda de tule. Outra marca que sempre surpreende com desfiles chocantes, é a polêmica Rick Owens, que foi mais polêmica ainda ao apresentar um desfile masculino repleto de túnicas que desconstruíam os valores tradicionais de virilidade, deixando o pênis dos modelos à mostra.

Vale ressaltar também, que o movimento não atinge apenas o setor de vestuário das marcas. A Calvin Klein lançou, no ano passado, sua primeira fragrância sem gênero, que recebeu o nome de CK2, estampando a frase “A new scent for #the2ofus By Calvin Klein” como chamada para a campanha.

Campanha Givenchy – Inverno 2015/16

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Desfile Gucci – Inverno 15/2016

Noiva Final do Desfile da Chanel – Inverno 2016

Rick Owens – Inverno 2015/16

Campanha da Fragrância CK2 – Calvin Klein

No Brasil não está sendo diferente e, por incrível que pareça, também não está atrasado! Nomes como João Pimenta trabalham essa estética há algum tempo, inserindo peças como saias e túnicas no guarda roupa masculino. Ronaldo Fraga apresentou, em sua última temporada de inverno 2016, um desfile inspirado no amor, que retratava toda e possível forma de amar, e como abertura encenou uma troca de roupas entre um homem e uma mulher, provando ao vivo e a cores que é possível vestir os dois corpos com peças da mesma estética. A Melissa, por sua vez, apresentou dois modelos de sapato que se encaixam nesse estilo, o modelo Oxford Grunge e a rasteira Flox Unissex, com numeração que vai até o 43.

Desfile João Pimenta – Verão 2012

Desfile Ronaldo Fraga – Inverno 2016

A verdade é que, com o tempo, a moda está se tornando bastante democrática. Pessoas se vestem como desejam e se sentem confortáveis, buscam se impor cada vez mais e usam roupas para se expressarem. Outros estilos ganharam as ruas e transformaram a moda em um enorme “street style” (moda que vem da rua), o over size, o genderless, o normcore, assim como os estilos hippies e góticos de outras épocas, são maneiras que os jovens encontram para se imporem na sociedade, até mesmo como forma de protesto. Querendo ou não, esses movimentos sempre surgiram e sempre irão surgir, para inspirar cada vez mais a criação de nós designers, que nos encantamos justamente com isso: a multidiversidade de estilos e desejos.

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