O amadurecimento deve ser orientado. Levado nos braços enquanto criança, norteado na adolescência e talvez um chute na bunda no limiar da vida adulta: “já deu, arruma um trampo, e os concurso? Se vira!”. Grato aos que te conduziram até aqui, amputado umbigos e algum nos bolsos pra pagar os boletos (o que pressupõe discernimento na carreira solo)... Por que há de se seguir regras ao envelhecer?
E por que se dobra o Cabo da Boa Esperança? “Tens tantos anos, desse ponto em diante você deve fazer isso, aquilo... Se não, num vai dar tempo! Pois agora, o que resta é ficar velho”. Mesmo confortados na tecnologia como protelador do existir, respeita-se a biologia. Por mais que nos aproximemos dos centenários orientais, a longevidade não é inversa ao decréscimo da contagem hormonal. Contudo, há diferenças entre “ser velho” e “sentir-se velho”.
São esses tempos à flor da pele; muitos se veem no direito de externalizar o que bem entendem. Preconceito inclusive, até em sua forma cronológica. Busque na memória, usando a intolerância temporal como filtro. É provável que barbaridades, a priori inofensivas, tenham lhe passado despercebido: “não casou até agora? Vai ficar pra titio - ou deve ser viado!”; “quarentão e ainda não se arrumou financeiramente? Mas esse aí sempre foi vagabundo mermo!”; “35 e não engravidou? Compra um gato, um poodle, porque esse útero já secou”.
É pública a mistura dos marcos sociais e biológicos na escalada do amadurecimento e envelhecimento. Claro: não se pode fugir dos padrões optimus de fertilidade; das margens de segurança balizadas pela idade da gestante. Mas... Desde quando colocar um filho no mundo, acoplando tal decisão à vida útil do útero, indica maturidade? E uma vez que o prazo deste útero expire... Ser Mãe necessariamente deve estar associado ao ato de parir?
Então... Uma Avó não pode ser Mãe? Já que com 20 anos, a cronologicamente apropriada projetou sua fertilidade em dois empregos? “Ela não foi madura e pegou barriga, largando a cria com a Vó” - rezam os fiscais dos bons costumes, cegando-se à exaustão da jovem ao beijar a testa do filho, em sono profundo quando a Guerreira torna para o lar.
São dois empregos, feito o Julius, pai do Chris, que sempre volta pra casa quando vai comprar cigarros. Na genealogia dessa árvore desgalhada, porém de troncos fortes... A Avó é velha? A Mãe é “novinha”? O filho é mesmo criança, já que tão logo terá que cuidar de si? E essa crônica: carece de tantas interrogações, sem chegar à conclusão alguma? E nesses tempos estranhos... Precisamos ser tão criativos assim e dissertar sobre intolerância cronológica? E a loja de cigarros... Fica mesmo a tantos anos-luz de distância?
Sobre o Escriba: odeia todo mundo, menos o Chris. E também morre de medo da Rochelle.