“Bruxismo? Não! Você tem é Satanismo mesmo”, disse o dentista, sobre aquela mandíbula toda fudida. Mas de onde vem tamanha pressão... Travando maxilar diuturnamente, limando dente com dente, deixando todos na mesma altura? As pontas dos caninos se foram, nivelando-os com molares e plantando dúvidas: como cessar a lixa-dôntica, sendo a ansiedade o combustível e de vasta fonte na contemporaneidade?
Os 32 dentes abocanharam o ouvido. Milímetros ósseos separam as articulações da mandíbula e a trama de canalículos auriculares. Um labirinto a confundir o juízo, tropeçando na bigorna e cravando martelo nos tímpanos para se segurar - colateralizando zumbido que desorienta neurônios, fazendo-os entender paz como angustia e serenidade como aflição.
Havia antes o ar, condicionado à orelha esquerda, infeccionando e embaralhando o diagnóstico. Foi devidamente medicado e a gambiarra... É uma paixão nacional! Improvisaram canaletas de papelão, desviando a brisa glacial introjetada na tuba auditiva. Contudo o zumbido continuava, deixando perplexo o “Doutor” - mais até que certos pacientes, a verbalizar sua especialidade sem travar a língua: Otorrinolaringologia.
Num aquário almofadado, com fones nas orelhas e microfone aos lábios... O imaginário vociferou um grito gutural. Estava num estúdio, gravando uma participação no próximo disco do Sepultura? Não, era só uma audiometria. Duma clínica a outra, parou no Fonoaudiólogo, escaneando os tímpanos. Pode ser que estivessem ocluídos, ou imundos... Depois de filtrarem tanta merda, vinda de bostejos pela garganta nas últimas Eleições.
Perfeitos! Graças, pois desde que a primeira abelha se instalou na orelha, não levava os fios aos ouvidos - o pavor da surdez tirara a música da sua vida. Com o lavar das mãos de dois especialistas, partiu ao diagnóstico do terceiro, mas não antes dos exames, ficando $1000 Golpes mais pobre. Vestir um colete de chumbo e bombardear o cérebro com radiação... Era o de menos! Horrível foi não bater uma selfie, com aquela parafernália na boca, escancarando gengivas e tirando moldes de gesso da arcada.
“És um mutante”, disse o último Doutor (sem aspas, já que docente na Odontologia). “Tens os músculos da mordida cinco vezes mais desenvolvidos. Não se orgulhe, isso lixou-lhe a ponta dos dentes. Fabricou também a colméia, onde a mandíbula beija o ouvido. Usará uma placa na boca noite e dia. Vais parecer um lutador do UFC, o que espantará as abelhas”, garantiu Professor Xavier. Por fim, arrematou: “os zumbidos angustiam, as vespas afligem, mas só um Psicólogo borrifará inseticida na sua ansiedade”. Procurou então o quarto especialista, antes que trocassem as vogais, virando Bruxismo em Broxismo. Preferia inseticida à pílula azul.
Sobre o Escriba: num veio hoje, tá de atestado, foi no Exorcista. Ironias fora, se liguem nos sinais do Bruxismo: enxaqueca, ouvido zunindo e dentes trincando. Cuidem-se crianças!