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Assistidos #10

Na sessão de hoje, as impressões do escritor Tiago Santos-Vieira sobre a série Sex Education e os longas Kate, Slender Man e o clássico Forrest Gump!


• 3 mins de leitura
Assistidos #10

SEX Education - 3ª Temporada

É receita de cupcake: contra prognósticos de que a série cairá na mesmice, desenvolva os personagens secundários! Nenhum requinte de genialidade dos roteiristas, apenas uma tática de sobrevivência, funcionando com excelência. Para além de Otis, Maeve e do maravilhoso Eric, existia a personalidade hipercomplexa de Adam Groff: valentão da escola virado em adestrador-de-cães-poeta-namorado-de-Eric. Havia ainda o gigantesco e despedaçado coração de Ruby, oculto numa carapaça de futilidades e no status de garota mais popular do colégio. A trama se desprendeu da aura púbere (cheia de dúvidas carnais e masturbatórias), procurando um tom adulto ao acompanhar o amadurecimento dos alunos de Moordele. Matizes adultas também nos dilemas de pais e professores, nascidos em lares opressores/egressos de casamentos falidos - buscando libertação a cada episódio; vide o ex-diretor Mr. Groff (pai de Adam). Mais que a tensão sexual, o clima pesa nos corredores, com a chegada de uma nova diretora cujos métodos fariam Paulo Freire cambalhotar na cova (acho que já estudei numa escola assim!?!). Temos ainda escapismos literários alienígenas ali, menções performáticas à GLEE acolá... E outra série de estimação guardada no peito.

KATE

Boraí aproveitar a prolificidade de Keanu Reeves, fazendo logo um crossover de John Wick com KATE (protagonizado por Mary Elizabeth Winstead; a Ramona namorada do Scott Pilgrim, lembra?). Só pela perseguição automobilística repleta de neon, numa vibe Need for Speed, o filme já tá valendo. No mais, aquele clichê que odiamos amar: assassina é traída e envenenada, tendo 24hs de sangue no zóio pra se vingar, tocando o foda-se no Japão. Pensando aqui... Na porradaria contra John Wick, colocaria minhas fichas em Kate - pelo “simples fato” de ela usar um Onitsuka Tiger, mesmo tênis de Uma Thurman em Kill Bill e de Bruce Lee em Jogo da Morte.

Slender Man

Comecei preconcebendo frustrações. Aí fui relaxando perante planos longuíssimos, duma floresta de galhos secos e retorcidos. Então vieram takes contemplativos, de um interminável dia nublado - tudo que me apetece, prendendo a atenção. Continua com homenagens aos hits O Chamado, A Última Profecia... E já convencido em dar uma chance ao filme, orando para que mantivesse a sutileza das aparições da entidade/criatura: eis que surge um jump scare, adornado por péssimos efeitos, escancarando a ausência de rosto do Slender Man - a contragosto do tom misterioso de sua mitologia virtual. E assim, desrespeitou-se uma das mais (visualmente) intrigantes lendas da internet.

Forrest Gump

Sete! Eis o número de vezes que assisti. A primeira nos idos de 96, num desses cinemas/elefantes brancos erguidos nas políticas duras - desfigurados em igrejas neopentecostais posteriormente. Matei aula nesse dia, junto ao amigo/irmão motoqueiro fantasma, que virou estrelinha no céu (limpei uma lágrima aqui). A última foi ontem, numa sessão-pipoca-doce-caseira-que-queima-o-fundo-da-panela, apresentando Forrest a meu par em “avant-première”. Extra enredo... Impressionante mesmo são os bastidores da produção, autossabotada pelo próprio estúdio: relutante com Tom Hanks (mesmo dono de um Oscar por Philadelphia/antes de se perder pelos 2000) e com o diretor Bob Zemeckis (protegido de Spielberg/aclamado pela trinca De Volta para o Futuro). E sempre pinço descobertas nos meus reviews! Dessa vez... O quão gigante é Tenente Dan, achincalhando a fábrica estadunidense de heróis de guerra amputados.


Sobre o metido a resenhista: nascido na mitológica Caratinga (MG), Tiago Santos-Vieira fez voto de pobreza ao optar pelo Jornalismo (UFJF). Da miséria, passou à escravidão voluntária, trabalhando com periódicos em São Paulo (chegando a morar em um MOTEL). Foi um rasgo temporal produtivo, com publicações nas revistas Rolling Stone, Trip/TPM, Riders e no Diário de Guarulhos. Fechado esse ciclo, voltou à Terra do Nunca, vulgo Caratinga, passando uma temporada trancafiado num quarto escuro. Quando viu a luz, fora aprovado em um concurso público e estava grávido de um livro. Foi então morar em Brasília, onde, após sanguinolenta gestação, pariu o suspense Elos do Mau Agouro. Torna agora a Minas, publicando o infantil As Aventuras do Super Careca e o suspense Dança das Bestas. Siga o Autor: @santosvieiratiago


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assistidos, apaixonados por cinema, filmes, séries, tiago santos-vieira


Escrito por

Tiago Santos-Vieira

Escritor e jornalista; é autor dos livros Dança das Bestas, Elos do Mau Agouro e As Aventuras do Super Careca. Foi colaborador das revistas Rolling Stone, Trip/TPM e é brother da Chico Rei.