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Assistidos #19

É hoje, o Oscar é hoje! Então vamos de apostas “alternativas” para duas das categorias mais nobres da premiação.


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Assistidos #19

É hoje, o Oscar é hoje! Então vamos de apostas “alternativas” para duas das categorias mais nobres da premiação.

Melhor Atriz: Olivia Colman/A Filha Perdida

O dedo indicador coça pra apontar e julgar a protagonista: uma mãe que faz escolhas, a princípio, mal vistas e que vai torcendo nossos braços ao longo da trama. No fim lhe damos razão, com um gosto amargo na garganta, por conta da relação de proximidade que o filme traz. Porém, até chegarmos no desfecho onde mudamos de opinião (eu mudei!), essa mãe, hoje beirando os 50 e passando férias sozinha na praia... projeta seu traumático passado no guarda-sol ao lado, onde pousa outra mãe (mais jovem), sua filha e uma boneca que “funciona como máquina do tempo”. A Filha Perdida foi extraído do livro homônimo, rendendo inclusive uma indicação no Oscar 2022 de Melhor Roteiro Adaptado, além das de Melhor Atriz e Atriz Coadjuvante. Uma delicadíssima história que poderia ser a da sua mãe. Bom, pelos menos poderia ser da minha.


Melhor Ator: Andrew Garfield/Tick, Tick... BOOM!

E meu Oscar de Melhor Ator vai para: Andrew Garfield! Poxa, o cara canta, dança, toca piano, só falta soltar teia e pular de prédio em prédio em Nova York. Ahhhh, tava esquecendo: ele atua também, num saladão metalinguístico, levando Tick, Tick... BOOM! da Broadway para as telas. O mais louco é que o espetáculo/filme conta, de certa forma, a vida de seu próprio autor, Jonathan Larson: um cara que revolucionou os musicais com temas (AIDS, drogas, paranoias urbanas) e formatos (abusando do autorreferencial). Se tu viveu os anos 90, ou o consumiu posteriormente, sentindo saudades duma época em que não esteve... Deixe um lenço à mão, porque Tick, Tick... BOOM! explode em saudosismo, fora o já conhecido final da cinebio: Larson saiu cedo de cena, aos 35, nas véspera da estreia de Rent (seu mais notório musical). Isso não é spoiler, tá na Wikipédia, onde tu descobre ainda que Tick foi indicado à Melhor Edição.


E mais dois filmes nacionais, digamos... “de gosto duvidoso” (KKKK)!

Garota da Moto - O Filme

Vendendo-me como incentivador incondicional do cinema nacional (até rimou), dói muito depreciar o nosso fruto. Com o coração na mão, decreto: Garota da Moto é ruim. O filme é um subproduto da série homônima chancelada pelo SBT. Com todo respeito aos serviços prestados pelo canal à subcultura televisiva... Digamos que a série mais parece uma novela noventista, bem zuada. No cinema a coisa não melhora muito. Maria Casadevall está no lugar de Christiana Ubach (protagonista da TV), numa produção que pesa em lutas e cenas de ação mal coreografadas. Revisita ainda o clichê “motoboy lifestyle” e esgota-se nas poses erotizadas estilo Viúva Negra (cuja objetificação da personagem foi contestada pela própria Scarlett Johansson). Mas assistam o filme, a série, sei lá: só pra fazer nosso audiovisual girar e amenizar meu peso na consciência :(


Reação em Cadeia

Deixa eu colocar (novamente) meus óculos de vista grossa para nacionais de ação... Oh! Tem umas tomadas bem honestas, corridas de carro, capotamentos, uns efeitos legais. Tem também uma vibe “Liam Neeson no Domingo Maior”, com o cidadão comum entrando numa roubada e dando uns tiros pra proteger a família. Poxa, mas é cada furo no roteiro, uns descuidos de continuidade e sequência. E o Bruno Gissoni tinha que envelhecer uns 20 anos pra ser o Neeson, né?!. Bom, pelo menos Reação em Cadeia é melhor que A Garota da Moto (outro nacional de ação que pede lentes grossas).


Sobre o metido a resenhista: nascido na mitológica Caratinga (MG), Tiago Santos-Vieira fez voto de pobreza ao optar pelo Jornalismo (UFJF). Da miséria, passou à escravidão voluntária, trabalhando com periódicos em São Paulo (chegando a morar em um MOTEL). Foi um rasgo temporal produtivo, com publicações nas revistas Rolling Stone, Trip/TPM, Riders e no Diário de Guarulhos. Fechado esse ciclo, voltou à Terra do Nunca, vulgo Caratinga, passando uma temporada trancafiado num quarto escuro. Quando viu a luz, fora aprovado em um concurso público e estava grávido de um livro. Foi então morar em Brasília, onde, após sanguinolenta gestação, pariu o suspense Elos do Mau Agouro. Torna agora a Minas, publicando o infantil As Aventuras do Super Careca e o suspense Dança das Bestas, além de escrever regularmente para o blog Chico Rei. Siga o Autor: @santosvieiratiago


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assistidos, cinema, oscar, filmes, tiago santos-vieira


Escrito por

Tiago Santos-Vieira

Escritor e jornalista; é autor dos livros Dança das Bestas, Elos do Mau Agouro e As Aventuras do Super Careca. Foi colaborador das revistas Rolling Stone, Trip/TPM e é brother da Chico Rei.