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Assistidos #15

A série de minirresenhas do escritor Tiago Santos-Vieira chega a uma edição especial! A partir de hoje, a cada domingo até o dia da cerimônia do Oscar, Tiago inclui ao menos um indicado da Academia entre seus #assistidos.


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Assistidos #15

Ataque dos Cães

Tá dando pra sentir daqui a catinga do Benedict Cumberbatch que, reza a lenda, ficou mesmo dias sem tomar banho pra entrar no personagem de Ataque dos Cães. Das poucas vezes que se lavava, o cowboy o fazia no rio, ensaboando-se com lama, protagonizando um exótico ritual (autoexplicativo quanto ao seu mau humor). A rabugice de Benedict afastou-lhe do irmão, levou a cunhada ao alcoolismo e rondou seu sobrinho emprestado - que naqueles tempos indelicados, por conta de sua sexualidade, era rotineiramente feito de chacota. Porém é este sobrinho, acadêmico de medicina vivido por Kodi Smit-McPhee, o elemento mais bruto da trama: descascando a mente do algoz, com a mesma destreza que disseca seu coelhinho de estimação.

PS: Ataque dos Cães é o campeão de indicações no Oscar 2022, com doze no total, incluindo Melhor Filme, Direção, Ator, Atores Coadjuvantes y otras cositas más.


O Exterminador do Futuro (Saga)

Vem um frio na barriga quando ignoram os capítulos do meio de uma saga, linkando suas extremidades. Foi o que fizeram com Destino Sombrio, Parte 6 de O Exterminador do Futuro. Num salto, conectam-se as Partes 1 e 2 ao último lançamento da franquia (2019), que segue a estética do segundo, feito um thriller urbano alucinante (ambientado na Cidade do México). Louros ao vilão Gabriel Luna, literalmente se descolando de seu esqueleto mecânico, gerando um novo exterminador de metal líquido. Para combatê-lo, uma gangue encabeçada por Linda Hamilton sessentona e boladona, Mackenzie Davis como um ser humano brutalmente aprimorado, Natalia Reyes numa releitura do salvador John Connor e... Pasmem: Schwarzenegger pagando de exterminador-aposentado-pai-de-família-vendedor-de-cortinas. Contrariando as críticas, Destino Sombrio é respeitoso com o original (84/ícone da ficção científica) e sua sequência (91/marco dos efeitos especiais; só de falar vem na cabeça You Could be Mine/Guns). Seguindo com o guia aos não iniciados: Parte 3 (2003) - Foi onde fudeu tudo. Parte 4 (2009) - Como o Christian Bale se meteu nessa roubada? Parte 5 (2015) - É interessante, com aquele lance de realidades alternativas. E temos até uma série - Terminator: The Sarah Connor Chronicles (2008). Mas aí fica a critério do cliente.


Entre Facas e Segredos

Me amarro num novelão tipo Manoel Carlos, com um mundaréu de personagens entrelaçando suas histórias. Se tiver as cores de Almodóvar e pitadas de Os Excêntricos Tenenbaums, então... E foi assim que o trailer me enganou! Talvez efeito da “muita sede ao pote”, já que o premissa instigava: escritor tem a garganta cortada na própria mansão, após uma festa de família - todos são suspeitos (a encenação nas telas do jogo Detetive, com piadinhas aludindo ao Coronel Mostarda nos diálogos). Com tamanho hype, esperava mais de elenco tão díspar sob o mesmo holofote. Chris Evans, Jamie Lee Curtis, Daniel Craig... O último transmutado de 007 a um detetive particular, conduzindo complexa reviravolta no final, que poderia ter sido diluída na trama. E não se enoje com os vômitos de Ana de Armas.


Cemitério Maldito (pra que esse remake?)

Não cresci lendo Stephen King, porém assistindo-o. Aceito tomates, pedras e até fezes caso queiram arremessar... Mas acho que o MESTRE enrola muito na escrita até alcançar os plot twists. Quando digo MESTRE, maiúsculamente, é porque admiro King por outra coisa: ter criado sua própria mitologia, em que vários escritores bebem. Eu mesmo embriago-me naquilo que chamo de “terror agrário/terror beira de estrada/terror caipira”. Dentre tantos outros, deste viés de Stephen saíram interessantes adaptações para as telas: Colheita Maldita, 1922, Campo do Medo e... Cemitério Maldito né, que nunca foi grande coisa, salvo pela memória afetiva, endossando a desnecessidade de virá-lo num remake. Então, pra salvar isso aqui que deveria ser uma resenha, queria uns biscoitinhos por ter conhecido Mick Garris - agradecendo-o pessoalmente por dirigir Montado na Bala; um dos “Kings beira de estrada” de que mais gosto. Olha a fotinho aí!

Tiago e Mick Garris - Diretor de Montado na Bala

Sobre o metido a resenhista: nascido na mitológica Caratinga (MG), Tiago Santos-Vieira fez voto de pobreza ao optar pelo jornalismo. Da miséria, passou à escravidão voluntária, trabalhando com periódicos em São Paulo (chegando a morar em um MOTEL). Foi um rasgo temporal produtivo, com publicações nas revistas Rolling Stone, Trip/TPM, Riders e no Diário de Guarulhos. Fechado esse ciclo, voltou à Terra do Nunca, vulgo Caratinga, passando uma temporada trancafiado num quarto escuro. Quando viu a luz, fora aprovado em um concurso público e estava grávido de um livro. Foi então morar em Brasília, onde, após sanguinolenta gestação, pariu o suspense Elos do Mau Agouro. Torna agora a Minas, publicando o infantil As Aventuras do Super Careca e o suspense Dança das Bestas, além de escrever regularmente para o blog Chico Rei. Siga o Autor: @santosvieiratiago


Tags

assistidos, cinema, oscar, filmes, tiago santos-vieira


Escrito por

Tiago Santos-Vieira

Escritor e jornalista; é autor dos livros Dança das Bestas, Elos do Mau Agouro e As Aventuras do Super Careca. Foi colaborador das revistas Rolling Stone, Trip/TPM e é brother da Chico Rei.