O Culpado
Uma “produção pandêmica”, gravada em (reza a lenda) duas semanas. Acho que os protocolos sanitários foram respeitados, baseado no distanciamento das baias dos atores, interpretando telefonistas do serviço de emergência da Polícia. Elenco enxuto e quase sem tomadas externas, cujo roteiro redunda em Jake Gyllenhaal - policial que só faz merda - buscando redenção ao ajudar (por telefone, obviamente) uma mulher que se diz sequestrada. E tome socos na mesa, crises de asma, gastrite, esporros da ex-mulher pelo celular e uma madrugada em claro no serviço - com o agravante de que Jake será julgado pela manhã, por mais uma cagada que o tirou do patrulhamento nas ruas. Numa atmosfera semiteatral, a mesmice dos primeiros minutos do filme é a vaselina para tensas reviravoltas, com as vozes nos fones emulando interlocutores invisíveis (Peter Sarsgaard, Ethan Hawke, Paul Dano e Riley Keough). Mas, contudo, entretanto, porém, todavia... Revelo que O Culpado (2021) é um remake do dinamarquês CULPA (2018), ficando a dúvida: é mesmo necessário remodelar algo tão recente?!?
O Lendário Walter Mercado
Numa longínqua lembrança, achava que o Walter Mercado era um fenômeno local, oriundo das coxias do Silvio Santos (ou da Manchete, Band etc). Um ator brasileiro canastrão...? Hablando portuñol selvagem, com visão astrológica/mercantil, arrancando grana de geral no disque horóscopo? Então assisti seu bio.doc! Pasmem: o cara era mesmo porto-riquenho e, antes de aparecer no Brasil, abocanhou a fatia latina dos EUA no rádio e na TV, culminando numa milionária rede de autoajuda astral/telefônica. Depois foi de voadora no “mercado” integral estadunidense, chegando a jogar búzios pra mais de um presidente. Claro que tínhamos ali doses de charlatanismo e oportunismo. Porém, segundo o documentário, Walter padecia de certa pureza artística. Era 100% personagem e ZERO tino para os negócios - levando uma pernada do empresário, desaparecendo repentinamente da mídia, até morrer no semiostracismo. Mas sei lá... Havia algo de hipnótico naquela figura andrógena, meio Aracy Balabanian, meio Cauby Peixoto. Ou talvez cativava por lembrar minhas muy fofas tias-avós. Se pá tinha até algo de mágico nele mermo. Ligue Djá!!!
TROOP ZERO
Aviso: esse é pra encher o zóio d’água! Uma tropa de escoteiras só com garotinhas que não se encaixam nos padrões hipócritas duma cidadezinha. Haaá... Dessa tropa faz parte o Joseph, que se identifica como escoteira, mandando um grande foda-se pra sociedade - inclusive enchendo o pai de orgulho, quando num show de talentos com as amigas, incorpora David Bowie. Essa apresentação é o ápice do filme: ode contra a normalização do bullying, com referências ao clip de No Rain/Blind Melon, substituído por Space Oddity/Bowie na performance. TROOP ZERO mistura Os Batutinhas e Conta Comigo, porém muitoooo mais fofo e mais Girl Power. E nunca subestime uma garotinha com tapa-olho, uma que quer espancar geral, outra que sofre de flatulência, um menino que usa vestidos e a menina das botinhas vermelhas nada anatômicas. Se forem capitaneadas por uma mal-humoradíssima Viola Davis, então...
Filmes que Marcam Época - 2ª Temporada
TRÊS MIL: esse número, remetendo ao pagamento que Julia Roberts receberia de Richard Gere no fim de uns dias juntos, é o título original de Uma Linda Mulher - cujo roteiro, antes de ser adaptado pela Touchstone/Disney, era bastante sombrio. Em De Volta para o Futuro, na primeira versão do argumento, a máquina do tempo (pasmem!) era uma geladeira... E não um Delorean. Forrest Gump quase foi cancelado devido a cortes no orçamento. Tom Hanks e o diretor Bob Zemeckis tiraram grana do próprio bolso pra terminar o filme. Inclusive gravaram escondido da Paramount a caríssima sequência da corrida de Forrest pelos EUA. E o elenco de Jurassic Park, que fugiu clandestinamente de uma ilha num avião!? O espaço aéreo estava fechado após uma tempestade; e as gravações não podiam parar! Sou cinéfilo o bastante pra saber tudo isso? Porra nenhuma; apenas tarado num “behind the scenes”! Só assistam a 2ª Temporada de Filmes que Marcam Época...
Sobre o metido a resenhista: nascido na mitológica Caratinga (MG), Tiago Santos-Vieira fez voto de pobreza ao optar pelo Jornalismo (UFJF). Da miséria, passou à escravidão voluntária, trabalhando com periódicos em São Paulo (chegando a morar em um MOTEL). Foi um rasgo temporal produtivo, com publicações nas revistas Rolling Stone, Trip/TPM, Riders e no Diário de Guarulhos. Fechado esse ciclo, voltou à Terra do Nunca, vulgo Caratinga, passando uma temporada trancafiado num quarto escuro. Quando viu a luz, fora aprovado em um concurso público e estava grávido de um livro. Foi então morar em Brasília, onde, após sanguinolenta gestação, pariu o suspense Elos do Mau Agouro. Torna agora a Minas, publicando o infantil As Aventuras do Super Careca e o suspense Dança das Bestas. Siga o Autor: @santosvieiratiago