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Assistidos #14

Se não tem folia, a gente abraça a maratona! A bola da vez é um combo que reúne as séries Round 6 e A Mais Pura Verdade com os filmes Eu Me Importo e Um Clássico Filme de Terror.


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Assistidos #14

A Mais Pura Verdade

Podar os galhos podres da árvore genealógica é dificílimo. O laço sanguíneo é o adubo que os mantém, mesmo que afetem nossas próprias raízes. Poético, hein? Foi o jeitinho encontrado pra falar, sem spoiler, de A Mais Pura Verdade. Que minissérie tensa! Nem os personagens, nem o espectador tem um pingo de paz. Reviravoltas em cima de reviravoltas, numa trama de suspense clichê - porém repaginada para os tempos das megacelebridades do show business/redes sociais. Wesley Snipes está muito bem em seu papel de Wesley Snipes. Já Kevin Hart surpreende, mostrando que tem dons muito além da comédia. É assistir que as pulgas começam a pinicar: o que deve ter de famosinho com esqueleto escondido nó armário, né?!


Round 6

Véio da Havan, o vocalista e o guitarrista da Prevent Senior... Que Boninho tenha assistido Round 6, arquitetando um BBB Mortal, só com figurinhas que deram espetáculo na CPI. Cantaram a pedra para que Luciano Huck remodelasse seus quadros, baseando-os na série mais comentada do ano passado. Pertinente, já que o ganha-pão do apresentador é espetacularizar o legado da miséria humana (citei Brás Cubas, hein!?!). Como um bom sul-coreano, a série traz pesadas crítica sociais, nos fazendo dar glórias por apenas termos nossos nomes no SERASA/SPC (digamos que estar negativado na Coreia do Sul seja mais “sangrento”). Confesso: no cinema oriental, incomoda-me a expressividade excessiva dos atores, beirando certa comicidade. Culpa de uma dieta à base de enlatados norte-americanos, prejudicando minha cognição cinematográfica. Mas a cada coreano que me rendo, fico embasbacado com a humanidade dos roteiros, quase sempre passando pela luta de classes. No mais, a premissa de Round 6 não é novidade, sendo de tempos em tempos revisitada nas telas. Já esteticamente, seu simplismo cênico enche os olhos, numa mescla entre reality show, programa de auditório, picadeiro e palco de teatro. Pena uma produção tão legal ter causado frustações, vítima de um hype desproporcional ao que se dispôs a entregar, fazendo o espectador ir com muito sangue... Ops, muita sede ao pote.


Um Clássico Filme de Terror

Assim que é bão, quando a metalinguagem grita referências, poupando pesquisas. Mas não resisto, as enumerarei: 1) questo film italiano ha i coloris del fratello Dario Argento; 2) uma cabana no meio do nada, citando A Morte do Demônio/Sam Raimi; 3) ambientação numa comunidade fechada estilo Amish, já vista em A Vila/M. Night Shyamalan; 4) menções cenográficas e ritualística ao contemporâneo Midsommar/Ari Aster. É louvável quando o horror arrebenta as fronteiras estadunidenses, vide esta película e, também, as originais da invasão oriental (porque roliúdi cagou nos remakes de O Chamado, O Grito etc). E não dê stop quando Um Clássico Filme de Terror acabar! No pós-fim, há piadinhas também metalinguísticas, mirando você, seu pervertido: que passa madrugadas em claro na deep/dark web. PS: sou o poliglota do Google Tradutor!


Eu Me Importo

Filhadaputagem em pura essência definiria Eu Me Importo. Também pudera! Protagonizando está a mina de Garota Exemplar, num esquemão com sua namorada/detetive pra sacanear velhinhos aposentados. Só que aí batem de frente com um malvadão de mesma envergadura: Tyrion/Game of Thrones renascido como um discreto e estressado chefe da máfia. Até que o final desses dois escrotos, que se merecem, é interessante. E... Para não estragar mais o desfecho, evoco aquela figura legal esgotada na CPI (da qual não perdi um episódio): “Reservo-me ao direito constitucional de ficar calado”.


Sobre o metido a resenhista: nascido na mitológica Caratinga (MG), Tiago Santos-Vieira fez voto de pobreza ao optar pelo Jornalismo (UFJF). Da miséria, passou à escravidão voluntária, trabalhando com periódicos em São Paulo (chegando a morar em um MOTEL). Foi um rasgo temporal produtivo, com publicações nas revistas Rolling Stone, Trip/TPM, Riders e no Diário de Guarulhos. Fechado esse ciclo, voltou à Terra do Nunca, vulgo Caratinga, passando uma temporada trancafiado num quarto escuro. Quando viu a luz, fora aprovado em um concurso público e estava grávido de um livro. Foi então morar em Brasília, onde, após sanguinolenta gestação, pariu o suspense Elos do Mau Agouro. Torna agora a Minas, publicando o infantil As Aventuras do Super Careca e o suspense Dança das Bestas. Siga o Autor: @santosvieiratiago


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assistidos, cinema, séries, filmes, tiago santos-vieira


Escrito por

Tiago Santos-Vieira

Escritor e jornalista; é autor dos livros Dança das Bestas, Elos do Mau Agouro e As Aventuras do Super Careca. Foi colaborador das revistas Rolling Stone, Trip/TPM e é brother da Chico Rei.