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Assistidos #16

A série de minirresenhas do escritor Tiago Santos-Vieira em sua versão Oscar! A cada domingo, até o dia da cerimônia, Tiago inclui ao menos um indicado da Academia entre seus #assistidos.


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Assistidos #16

Encanto

Eu sei, eu sei... Que o imperialista-mor está mais uma vez auferindo lucros em cima dos subjugados latino-americanos. Mas reparações históricas à parte, é tão fofo quando a Disney encampa uma animação abaixo da Linha do Equador! No caso, na Colômbia, onde habita a família Madrigal, numa casa/templo cheia de mistérios. Mirabel é a ovelha cinza do clã: a única não agraciada com dons místicos na infância, usados pelos Madrigal para proteger o povoado no entorno da “casita”. O desenho é lindo, dançante, Mirabel tem a sua redenção (nos matando de chorar) e... que o imperialista-mor agracie Encanto com os merecidos Oscars de Melhor Canção, Animação e Trilha Sonora.  Agora não me enche o saco, porque hoje num tô afim de problematizar!


Não Olhe para Cima

A competente fábrica brasilis de memes me fudeu. Tava cheio de ideias, pra comparações entre os personagens de Não Olhe para Cima e os canastrões da nossa política. Aí estamparam a porra do meme, sabotando minha criatividade. Então resta ratificar as coisas: Meryl Streep está perfeita, numa versão feminina e tão estúpida quanto o nosso presidente. Jonah Hill consegue ser mais debiloide que os filhos do genocida, ocupando a chefia de gabinete da presidenta. Di Caprio brilha numa emulação de Atila Iamarino surtadíssimo. Mark Rylance é a mistura de Véio da Havan e Elon Musk com síndrome de Savant... E mais um estrelado elenco, onde se reconhece equivalências entre os personagens e as cabeças do nosso governo (que se é capaz de contestar a vacinação infantil, poderia muito bem ver potencial eleitoreiro/mercadológico num meteoro apocalíptico). O filme leva quatro indicações no Oscar 2022. Apostaria na de Roteiro Original.


NARCOS - Temporada Final

É uma arte saber a hora de parar por cima. Depois que pegaram o Escobar, a série conseguiu se manter indo da Colômbia ao México, encerrando os trabalhos nesta sexta temporada. Já sem Wagner Moura e Pedro Pascal no elenco, NARCOS teve como substitutos Diego Luna e Michael Peña, que funcionam tanto para o público latino, quanto para o norte-americano. Sem ter muito para onde ir, a série termina próximo do ponto em que estamos hoje na vida real: a queda de Amado Carrillo e a ascensão de El Chapo na cartelização mexicana. Função até então cumprida por homens, a temporada final tem Luisa Rubino como narradora: uma repórter sangue no zóio do La Voz - resistência impressa à política, aos megaempresários e ao narcotráfico (que se fundiam numa massa corrupta). Pinçamos ainda uma boa trama paralela neste fechamento, numa vibe meio fronteira/deserto/Onde os Fracos Não têm Vez, saca? No caso, um policial fica obcecado por investigar uma onda de feminicídios, que realmente ocorreram no México 90’s. Por fim, temos referências à Breaking Bad (um urso de pelúcia boiando na piscina), Wagner Moura dirigindo dois episódios e... um interessante diálogo desmistificando a agência antidrogas dos EUA, onde assume-se que são tão perigosos quanto os narcotraficantes.


O Protetor 2

Cogitaram até uma rivalidade entre franquias: John Wick VS O Protetor. Inclusive o segundo me agradava mais. Mentiroso por mentiroso, o badass de Denzel Washington é mais plausível que o de Keanu Reaves. Mas aí veio O Protetor 2, mudando o status de badass pra bunda mole mermo. A primeira metade do filme é enorme, perdendo-se numa investigação manjadíssima - diluindo a essência “porradística” do original (agora confinada aos finalmentes da trama). Salva-se apenas o “Counter-Strike” numa cidade evacuada, na iminência de uma tempestade tropical. Para registro, o Pedro Pascal fica muito estranho sem barba. É por isso que não tiro a minha.


Sobre o metido a resenhista: nascido na mitológica Caratinga (MG), Tiago Santos-Vieira fez voto de pobreza ao optar pelo Jornalismo (UFJF). Da miséria, passou à escravidão voluntária, trabalhando com periódicos em São Paulo (chegando a morar em um MOTEL). Foi um rasgo temporal produtivo, com publicações nas revistas Rolling Stone, Trip/TPM, Riders e no Diário de Guarulhos. Fechado esse ciclo, voltou à Terra do Nunca, vulgo Caratinga, passando uma temporada trancafiado num quarto escuro. Quando viu a luz, fora aprovado em um concurso público e estava grávido de um livro. Foi então morar em Brasília, onde, após sanguinolenta gestação, pariu o suspense Elos do Mau Agouro. Torna agora a Minas, publicando o infantil As Aventuras do Super Careca e o suspense Dança das Bestas, além de escrever regularmente para o blog Chico Rei. Siga o Autor: @santosvieiratiago


Tags

tiago santos-vieira, assistidos, cinema, oscar, filmes


Escrito por

Tiago Santos-Vieira

Escritor e jornalista; é autor dos livros Dança das Bestas, Elos do Mau Agouro e As Aventuras do Super Careca. Foi colaborador das revistas Rolling Stone, Trip/TPM e é brother da Chico Rei.