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Assistidos #17

A cada domingo, até o dia da cerimônia, Tiago Santos-Vieira inclui ao menos um indicado da Academia entre seus #assistidos. Hoje, Duna foi o escolhido do autor!


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Assistidos #17

DUNA

São duas vertentes, aí tu escolhe uma, OK? Primeira: a melhor ficção cientifica adaptada de um livro já produzida, valendo cada Oscar técnico (9 de 10) a que foi indicado em 2022. De fato, esteticamente e sonoramente o filme é maravilhoso - vide cena em que um imenso exército se prepara, sob o som de um bizarro mantra religioso, para a guerra santa intergaláctica que está por vir. Vertente Dois: que caraio de filme enorme, que fica só no anticlímax, sem acontecer porra nenhuma - exceto quando, enfim, os famosos vermes gigantes do deserto se materializam na tela. Sem muito o que explicar, tendo ao segundo grupo, e digo mais: prefiro a versão tosca dos anos 80, dirigida pelo David Lynch! Pelo menos tinha o Sting no elenco.


Missa da Meia-Noite

Habemus novo muso do terror. O conclave elegeu alguém da escola clássica, Mike Flanagan, cuja prima-obra, Missa da Meia-Noite, não erra ao caminhar pela Maldita Trindade: a ambientação e construção de personagens de King; o onipresente mal à espreita, fruto de Lovecraft; e a inquietação contemplativa de Allan Poe sobre a morte. Uma “releitura” da bíblia por um padre com o estilão do Nick Cave, cujo “messianismo ingênuo” beira os delírios do pastor Jim Jones. Talvez ache a trama arrastada, sonolenta, com diálogos alongados... Mas é aí que mora a genialidade de Flanagan, usando o estratagema para nos teletransportar à mesmice de uma ilha de pescadores, “bagunçada” pela chegada do tal padre. Retomando os diálogos, pincemos aquele entre Zach Gilford e Kate Siegel, no Capítulo 4/Lamentações: um duelo entre razão e emoção, temperado com lágrimas, sem chegar a conclusão alguma sobre a vida post mortem - a minissérie é praticamente um livro, com dois pontos, exclamações e travessões pulando da tela. Eita! E tem a Oração do Anjo né, entoada a todo momento na trama. Aquela, saca? “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou (...)”. Agora o Mike Flanagan colocou caraminholas na minha cabeça, porque passei a infância rezando isso antes de dormir.


Army of Thieves

E se a ramificação de um filme de zumbis não tivesse mortos-vivos? É exatamente o mote de Army of Thieves, spin-off de Army of the Dead, se passando numa Europa ainda ilesa e simultaneamente ao apocalipse nos EUA. No primeiro longa, uma equipe de renegados entra em Las Vegas (infestada de zumbis) e rouba um lendário cofre. Dentre os eleitos, estava Ludwig Dieter, exímio arrombador e comicamente inapto aos códigos sociais. Sem Zack Snyder, diretor de Army of the Dead, “Thieves” é estrelado e dirigido pelo alemão Matthias Schweighöfer, focando na transformação de Ludwig: bancário frustrado virado em gênio dos ferrolhos e fechaduras (mesmo que muito atrapalhado). Tudo ainda sem zumbis na Europa, que no máximo aparecem via noticiários norte-americanos. Talvez o ponto alto da produção seja os inserts gráficos, mostrando os mecanismos dos cofres sendo desatados por Ludwig. Por fim, vamos às alfinetadas: então é só tirar o Zack Snyder que as coisas melhoram, certo?!?


Zumbilândia 2

Assisti pela primeira vez em avant-première, nos idos de 2019, na Horror Expo SP. Tudo muito corrido: bisbilhotava o filme e simultaneamente canetava meu filhote Dança das Bestas, lançado naquela oportunidade. Três pandêmicos anos depois, no sofá de casa, resolvi dar outra oportunidade à Zumbilândia 2 (e acho que você deveria fazer o mesmo). Num tem nada de mais: Woody Harrelson como um redneck maluco, Emma Stone com aqueles olhos enormes, Jesse Eisenberg falando 276 palavras por segundo e Abigail Breslin sanguinolentamente fofa. Contudo a franquia continua honesta, assumindo que é um road movie cômico de zumbis, garantindo hora e meia de diversão e... ponto final. Bônus para os extras, com o autoesculhado Bill Murray dando show (como fez na parte 1), abrindo margem para um prequel da franquia.


Sobre o metido a resenhista: nascido na mitológica Caratinga (MG), Tiago Santos-Vieira fez voto de pobreza ao optar pelo Jornalismo (UFJF). Da miséria, passou à escravidão voluntária, trabalhando com periódicos em São Paulo (chegando a morar em um MOTEL). Foi um rasgo temporal produtivo, com publicações nas revistas Rolling Stone, Trip/TPM, Riders e no Diário de Guarulhos. Fechado esse ciclo, voltou à Terra do Nunca, vulgo Caratinga, passando uma temporada trancafiado num quarto escuro. Quando viu a luz, fora aprovado em um concurso público e estava grávido de um livro. Foi então morar em Brasília, onde, após sanguinolenta gestação, pariu o suspense Elos do Mau Agouro. Torna agora a Minas, publicando o infantil As Aventuras do Super Careca e o suspense Dança das Bestas, além de escrever regularmente para o blog Chico Rei. Siga o Autor: @santosvieiratiago


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tiago santos-vieira, assistidos, oscar, cinema, filmes


Escrito por

Tiago Santos-Vieira

Escritor e jornalista; é autor dos livros Dança das Bestas, Elos do Mau Agouro e As Aventuras do Super Careca. Foi colaborador das revistas Rolling Stone, Trip/TPM e é brother da Chico Rei.