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Assistidos #18

Na edição de hoje, King Richard foi o escolhido do escritor Tiago Santos-Vieira entre as obras que concorrem ao Oscar. O filme conta a história das irmãs Serena e Venus Williams, através da vida de seu pai.


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Assistidos #18

King Richard

É muito DaHora quando o Richard Williams, pai da Venus e da Serena, literalmente peida em protesto, numa reunião com um possível patrocinador das então adolescentes tenistas. A justificativa para a flatulência? Uma fala racista do empresário, incutida em um dos esportes que, talvez, seja o mais elitizado de todos. Chamado de charlatão, maluco, dominador e “marqueteiro do gueto”, Richard mandou um foda-se à mídia esportiva dos anos 90, quando tirou a filha Venus do circuito juvenil de tênis - sob o pretexto de preservá-la para que pudesse crescer sem pular etapas. O pai posteriormente jogou a filha aos leões, colocando-a direto no circuito adulto. E no que foi que isso deu? Venus tornou-se a primeira mulher preta a ocupar o posto de número 1 do mundo. Já Serena... É nada mais, nada menos, que a maior tenista de todos os tempos. E o Will Smith? Das seis indicações do filme no Oscar 2022, Will leva a de Melhor Ator. Será que isso tem a ver com a dramatização dos peidos do Richard “King” Williams?


Vingança & Castigo

Django Livre é até bom, mas... Que Oito Odiados o quê, ow! Só não vou pisar mais porque Vingança & Castigo é um Kill Billzão de chapéu, botas e cocô de cavalo, com sangue voando pra todo lado. Sim, cavalos: que em certa cena parecem rastamans dançando, sincronizados num reggae, parte da maravilhosa trilha assinada pelo próprio diretor Jeymes Samuel. E aquele hip hop onipresente no filme, usando estampidos de revólveres como batida pras rimas? Nem dos antigos, nem dos repaginados: nunca vi um faroeste tão colorido assim, inclusive tem uma porradaria entre Zazie Beetz e Regina King, exatamente numa tinturaria, com outros tons além do vermelho-sangue respingando na tela. Idris Elba está “muito bem em ser ruim”, encarnando um vilão entalhador de cicatrizes (antagonista de Jonathan Majors, que também tem bons cacoetes de fora da lei). Vingança & Castigo não é baseado em fatos reais, mas usa nomes de personagens pretos e indígenas que realmente viveram no Velho Oeste e adjacências - corroborando a tese do branqueamento histórico do cowboy, hipocritamente patrocinado por roliúdi.


Rocketman

Uma vez que passei a infância escutando Elton John de tabela... Vejo-me no direito de assistir/comentar Rocketman tardiamente. É uma experiência ímpar pra quem, como eu, não curte musicais. Transformadas em diálogos, as canções de Elton diluem-se em números pontuais, rápidos e de bom gosto - diferente daqueles musicais clássicos, onde as pessoas saem dos bueiros cantando e fazendo acrobacias de dança. Rocketman é poético em dramatizar a entorpecida busca Elton por aceitação - um cara que tinha de tudo, menos a sensibilidade de encontrar o amor nos locais/pessoas certas. E é tão bonito quando cantarolam Tiny Dancer no filme. Eita, fudeu, acho que tô gostando de musicais.


A Cura

Recém-chegado da hidrófila São Lourenço, cuja atmosfera da cidade lembra A Cura... Atrevo-me a redesenhar mentalmente o filme, porque seu final é uma bela merda. A premissa “lobotomia hidrotermal para velhinhos milionários/estressados” é sensacional. A estética “medicina alternativa/equipamentos terapêuticos de 1920” é muito foda. Mas aquela vibe Lolita, normalizando a pedofilia, é nojenta! Porque o protagonista de Nabokov era um maldito pedófilo, certo? Sobre São Lourenço: abrigaria tranquilamente essa repaginação de A Cura que só existe em minha mente. Inclusive descobri na cidade um intrigante “culto/seita existencialista”, que num sei não viu!?! Cruzessss!!!


Sobre o metido a resenhista: nascido na mitológica Caratinga (MG), Tiago Santos-Vieira fez voto de pobreza ao optar pelo Jornalismo (UFJF). Da miséria, passou à escravidão voluntária, trabalhando com periódicos em São Paulo (chegando a morar em um MOTEL). Foi um rasgo temporal produtivo, com publicações nas revistas Rolling Stone, Trip/TPM, Riders e no Diário de Guarulhos. Fechado esse ciclo, voltou à Terra do Nunca, vulgo Caratinga, passando uma temporada trancafiado num quarto escuro. Quando viu a luz, fora aprovado em um concurso público e estava grávido de um livro. Foi então morar em Brasília, onde, após sanguinolenta gestação, pariu o suspense Elos do Mau Agouro. Torna agora a Minas, publicando o infantil As Aventuras do Super Careca e o suspense Dança das Bestas, além de escrever regularmente para o blog Chico Rei. Siga o Autor: @santosvieiratiago


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tiago santos-vieira, assistidos, oscar, cinema, filmes


Escrito por

Tiago Santos-Vieira

Escritor e jornalista; é autor dos livros Dança das Bestas, Elos do Mau Agouro e As Aventuras do Super Careca. Foi colaborador das revistas Rolling Stone, Trip/TPM e é brother da Chico Rei.