Depois do tapa na cara que foi o Oscar (#piadapessima), fique com uns nacionais para desintoxicar!
Estômago
Em terra de Mouras, Seltons, Lázaros, Nachtergaeles e Santoros: quem tem João Miguel Leonelli não chega a ser rei, mas tem tino pra perceber o quão subestimado é o filho pródigo desta geração. Menos televisivo que seus pares, desde Cinema, Aspirinas e Urubus... João Miguel mescla brutalidade e sensibilidade nas atuações. Em Estômago, nos colóquios com Babu Santana e Fabíula Nascimento, João vai da ingenuidade à selvageria, somando requintes de canibalismo. O longa é ótima cruza entre contemporaneidade e flashbacks, com temperinhos novelescos indissociáveis ao cinema nacional (que o viciado aqui em Vale a Pena Ver de Novo adora). PS: descobri no filme uma sobremesa de gorgonzola e goiabada - de passar por baixo da mesa!
7 Prisioneiros
Esforçando para não dar spoiler... Parte o coração saber que tal prática ajuda a sustentar megalópoles feito São Paulo. A coisa torna-se particularmente assustadora pela memória visual que o filme me causa: se passa numas quebradas parecidas com as que caminhei, nos tempos de jornalista na Paulicéia Desvairada, Guarulhos e afins. Rodrigo Santoro começa recatado, mas vai se agigantando ao longo da trama, defendendo sua nojenta lógica existencial. Podre... Exalando Síndrome de Estocolmo, metamorfoseando Christian Malheiros de cativo a capataz. Um necessário soco no estômago, surtindo em vômitos de realidade, colocando 7 Prisioneiros bem perto de você.
Entre Abelhas
Num raio de comediantes que vai de Marcelo Adnet até Fábio Porchat, passando por Tatá Werneck: é estranho quando se metem ao drama. Em Entre Abelhas, a todo momento espera-se que Porchat faça graça, mande uma piada etc. De fato o riso acontece, porém diluído, pois o “foco” é jogar um “olhar” lúdico sobre a depressão. Não é spoiler: “foco” e “olhar” levam aspas porque fazem parte da trama. Ousaria ainda um link estético/paranoico entre este filme e O Homem Duplicado - obra de José Saramago, protagonizada nas telas por Jake Gyllenhaal. No mais, Entre Abelhas nos prende com atuações honestas de outros medalhões do humor (Luis Lobianco/Marcos Veras) - que não necessariamente arrancam risadas. É como dizem: Quem faz comédia (talvez o gênero mais difícil), faz bem qualquer tipo da dramaturgia.
Intervenção
Em um espectro que vai de Cidade de Deus até Tropa de Elite, o argumento de Intervenção é interessante, mas a execução, rapaz... Sequências meio soltas, sem liga com o fio central da história; soluções narrativas de gosto duvidoso; e por aí vai. O elenco tenta, sobressaltando-se Marcos Palmeira e Babu Santana. Porém é traído por diálogos excessivamente didáticos, no que tange polícia, tráfico e suas interações com a população das favelas. Na eterna espetacularização da violência nas telonas, se quisermos apoiar incondicionalmente do cinema nacional... é preciso fechar os olhos ao clichê reducionista da Segurança Pública, feito num formatinho perfeito pra gringo entender. Porque a gente sabe que o buraco (da bala) é mais embaixo, né?!
Sobre o metido a resenhista: nascido na mitológica Caratinga (MG), Tiago Santos-Vieira fez voto de pobreza ao optar pelo Jornalismo (UFJF). Da miséria, passou à escravidão voluntária, trabalhando com periódicos em São Paulo (chegando a morar em um MOTEL). Foi um rasgo temporal produtivo, com publicações nas revistas Rolling Stone, Trip/TPM, Riders e no Diário de Guarulhos. Fechado esse ciclo, voltou à Terra do Nunca, vulgo Caratinga, passando uma temporada trancafiado num quarto escuro. Quando viu a luz, fora aprovado em um concurso público e estava grávido de um livro. Foi então morar em Brasília, onde, após sanguinolenta gestação, pariu o suspense Elos do Mau Agouro. Torna agora a Minas, publicando o infantil As Aventuras do Super Careca e o suspense Dança das Bestas, além de escrever regularmente para o blog Chico Rei. Siga o Autor: @santosvieiratiago