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Chico Rei Opina: review de Game Of Thrones S08E05

São tantas polêmicas comentáveis na temporada que a crítica do famoso pré-final está recheada. Vamos juntos percorrer Porto Real através do quinto episódio, The Bells e seus caminhos de roteiro mais uma vez um tanto tortuosos.


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Chico Rei Opina: review de Game Of Thrones S08E05

Respirando fundo? Tamo junto! Nossa Game Of Thrones está chegando ao fim e nesse domingo começamos a despedida com o penúltimo episódio. São tantas polêmicas comentáveis na temporada que a crítica do famoso pré-final está recheada.

Vamos juntos percorrer Porto Real através do quinto episódio, The Bells e seus caminhos de roteiro mais uma vez um tanto tortuosos.


A provocação que eu fiz na chamada da crítica do episódio anterior parecia prever que a última pá de terra seria jogada sobre o roteiro de Game Of Thrones.

Já deu pra perceber minha insatisfação com os showrunners desde o início da sétima temporada e já adianto que não é uma questão de gosto ou preferência pelo que deveria ou deve acontecer, mas sim uma análise sobre a qualidade e coesão dos roteiros. Sejamos sinceros, muita coisa não está fazendo tanto sentido nesse momento.

Vamos aos tópicos!

Amor e mais Sete Reinos

Não temos como iniciar sem falar de Varys. Este é um personagem que sempre me despertou certa admiração desde suas primeiras aparições, mesmo sem entender muito bem sua lealdade e sua forma de jogar, dava pra perceber sua perspicácia e que no fim das contas, ele nunca perdia. Quando falamos de alguém que sempre se safa no jogo dos tronos, meus amigos, é legal prestar atenção.

Na semana passada, comentei que ele estava se arriscando muito por um governante que mal conhece - lê-se Jon Snow - e acabei me lembrando que ele fez o mesmo por Daenerys em temporadas anteriores alegando que sua lealdade está com o povo, com os reinos. Quem se lembra da sexta temporada, Varys em Dorne dizendo que veio trazer vingança, fogo e sangue? Pois é.

Sua morte foi anunciada, assim como sua traição. As tentativas de envenenar a rainha me soaram um exagero, mas a entrega de Tyrion tem sua coerência. O simbolismo da execução prometida por Dany e o diálogo com a mão da rainha foram bem retratados. Bem bonito o dragão aparecendo no escuro.

Falando em Daenerys, a caracterização da personagem de luto nesse início foi de partir o coração. A solidão que vimos no episódio anterior se intensifica, no diálogo com Snow e percebemos que o parentesco o incomoda, ele a afasta, sem deixar de reconhecê-la como sua rainha. Mas é só isso. Fragilizada, a khaleesi percebe que desse lado do Mar Estreito só há espaço para governar pelo medo, o povo de Westeros não a reconhece e obviamente, não a ama.

E é aqui que eu deixo uma perguntinha pra D&D: por que Jonerys aconteceu? Só pra Daenerys subir para o norte e ajudar a derrotar o Rei da Noite? Sinceramente, acredito que ela iria mesmo sem estar com Jon. Se foi simplesmente pra cumprir o quadro de abandono dela, dispensável.

Lannisters nem sempre pagam suas dívidas

Quanta decepção cabe em um clã? Após sofrer pela destruição da caracterização dos Stark na semana anterior, é a vez de sofrer pelos Lannister ~ Tywin se revira no túmulo. Vamos refletir sobre cada um dos três leões que sobraram.

Jaime, ah Jaime. Comentamos em críticas anteriores o desmoronamento do arco do Regicida após seis temporadas de redenção. Seu retorno a Porto Real é cheio de pequenos-grandes problemas. Primeiro, ser capturado - mais uma vez na série - por ter mantido a mão de ouro e ainda justificar dizendo que é o mais estúpido dos Lannister, parafraseando Cersei. Revirei os olhos e entendi que era uma manobra de roteiro para a despedida dos irmãos.

Talvez a única cena que me fez esboçar qualquer emoção no episódio, assim mesmo apenas porque os atores são excelentes e sua química é sempre imbatível. O diálogo sobre a infância, a retribuição e o relacionamento dos dois é ótimo. Até que...

Tyrion sugere uma fuga de Cersei e Jaime em um barco para Pentos. Uma única reação: ???? Vem sendo criado um caráter misericordioso indestrutível em Tyrion, o personagem que matou o pai e a amante (com as próprias mãos), além de ter dito a Cersei que gostaria de ter matado Joffrey, entre outros comportamentos que em Game Of Thrones são comuns e nos mostram que NENHUM personagem é 100% bom. Mais uma inconsistência que nada agrega à história.

A transformação de Tyrion me incomoda desde a temporada anterior. O fato de ele ter ido a Varys antes de Daenerys, a incompetência dele em ler Cersei - especialmente a afirmação de que a gravidez mudaria alguma coisa, sendo que as atrocidades cometidas por ela sempre foram justificadas pelo amor aos filhos - esse excesso de compreensão em relação a erros passados, as conspirações... Não consigo teorizar um final ou futuro do personagem que me agrade. Ele costumava ser meu favorito.

A rainha Cersei Lannister Primeira de Seu Nome não tinha um plano B. Depois do excesso de astúcia que víamos sendo insulado na personagem, de repente, Cersei confia cegamente em seu único plano e assiste sua cidade ruir em minutos.

A vilã que segurou esse posto com maestria, que foi impecável e teve muito tempo de tela por sete temporadas virou coadjuvante em seus últimos momentos. Teve uma participação pequena e um final indigno. Os roteiristas mantiveram todas as profecias que envolviam Cersei e ignoraram a de sua morte. Não é típico da rainha Lannister implorar pela vida, vamos lembrar que após a Batalha da Água Negra lá na segunda temporada, ela segurava um frasco de veneno para ela e o filho Tomenn, pois preferia morrer a ser capturada. Como alguém muda tanto assim?

A única questão concebível nesse final é que Jaime e Cersei cumpriram o propósito de vir ao mundo juntos e partirem juntos. Em um desmoronamento, morte mais sem graça da história dos Sete Reinos. Arrisco dizer que qualquer outra ocasião me traria mais emoção do que uma pilastra caindo. Plus pra Jaime com a mão regenerada em cena. Eu não aguento mais esses detalhes negligenciados.

Lena Headey é uma atriz espetacular que segura qualquer cena em que está presente, vê-la na varanda sem uma palavra dada já é maravilhoso por si só. No entanto, Cersei sumiu na oitava temporada, cometeu erros que não me parecem concebíveis, ficou de braços cruzados e morreu por ser arrogante. Quando o plot do Rei da Noite foi resolvido, achei que veria a Cersei implacável e impiedosa em ação e que seria surpreendida por ela novamente. Frustrante.

Jornadas de herói?

Sabe aquele meme do Pica-Pau dizendo: "Essa gente tem cada ideia...", então, esse é o retrato desse episódio. Esse é o tópico sobre a batalha (se é que podemos chamar de batalha) e alguns guerreiros velhos conhecidos nossos.

Sor Davos mais uma vez um espectador alerta que sobrevive. Nada a declarar.

Verme Cinzento inicia o ataque pós rendição parecendo estar cumprindo ordens de Daenerys. Odiei.

É interessante perceber que o episódio mostra uma realidade da guerra que muitas vezes passa despercebida: no mano a mano, pouco importam os lados. Digo isso, porque pudemos ver claramente soldados dothraki, soldados nortenhos e outros cortando mães, crianças, idosos e qualquer pessoa inofensiva sem uma armadura pelo caminho. Vemos inclusive a cena do quase estupro de uma jovem um por soldado aliado de Jon - e impedido por ele. Vimos nesse cenário a barbárie nua e crua do massacre de inocentes e muito antes do fogo infernal ser liberado por Daenerys. Na guerra, homens se tornam animais.

Precisamos falar sobre Jon Snow, pessoal. O Stargaryen se tornou um general fiel de Daenerys, sempre disposto a tudo por sua rainha. Vemos Jon em batalha esbanjando sua nobreza, pedindo para que seus exércitos não ataquem os rendidos Lannister, salvando uma moça de um estupro que parece vir de um cavaleiro do Vale. Bem, tirando esses pequenos atos heroicos mencionados, Snow não fez muita diferença na batalha, não...

Tampouco fez Arya, se formos avaliar de forma macro. A narrativa da garota também é um deslize de roteiro notável. Já comentamos sobre a maturidade de Arya e suas peripécias em críticas da temporada passada e mesmo dessa. Sobre ela, um ponto se mantém desde a morte de Ned Stark: sua lista de nomes, sua vingança. Arrisco dizer que essa sede manteve Arya viva por tanto tempo, essa resiliência e força, essa busca.

Pois bem, ela deixa Winterfell pra trás e não sabemos muito bem se Jon e Sansa estão cientes. O caso é que mais uma vez a garota se arrisca em um nível altíssimo para matar a rainha e então, no auge da Fortaleza Vermelha e seu caos, o Cão diz uma frase que muda tudo. Eu gosto da relação de Arya e Sandor Clegane, muito, inclusive. O fato de ela tê-lo chamado pelo nome ao agradecer, o abraço paterno que ele concede, poxa, excelente. O problema é essa desistência repentina e fácil que não condiz com o arco de Arya até aqui.

Ainda sobre nossa assassina preferida, seguimos seu rastro pelo cidade e mais uma vez D&D forçam diversas situações em que pensamos perdê-la. Em um momento em que a tela pega fogo pensei que Arya tinha morrido queimada e aceitei, chegaram até a dar aquele close em seu corpo e foi nessa hora que eu percebi mais uma vez o jogo de preocupação injusto dos roteiristas. Vemos a garota lutar e tentar salvar diversos inocentes, até encontrar um cavalo branco e fugir do horror. Relevante?

Já que comentamos sobre Clegane, esse não desistiu da sua tão amarga vingança e o tão esperado Clegane Bowl - apelido dado pelos fãs para a luta dos irmãos - finalmente aconteceu. Talvez uma das partes que considerei "menos pior" do episódio. Interessante ver o Montanha se virar contra seu criador e matar Qyburn como se se ele fosse uma boneca de trapos. Cersei, pouco chocada, sai de cena inteligentemente.

Sor Gregor em sua versão Frankenstein é ainda mais insuperável e beira o imortal, a luta se dá por vários minutos e o nosso Cão atinge o irmão de todas as formas possíveis. Finalmente, há a percepção que o único modo de dar um fim ao grandalhão é dar um fim aos dois. Bravamente Sandor Clegane se joga da Fortaleza Vermelha levando o irmão. Fim.

Fogo e sangue em Porto Real

Preciso admitir que visualmente o episódio chama atenção. Foi bem dirigido e cheio de tomadas inteligentes, a grana gasta em CGI... uau! Uma pena que isso não compensa de forma alguma as falhas monstruosas de roteiro.

A cena em que Drogon voa de dentro da cidade e o exército de vinte mil homens da Companhia Dourada se tornam nada: UAU! Majestosa, realmente um começo incrível. Os exércitos entram pela porta da frente e eu senti ali que a batalha estava ganha. No fim das contas, Dany só precisava mesmo de um dragão.

Tudo parece perdido pra Cersei e ficamos, junto a outros personagens, atônitos a espera dos sinos. Quando eles finalmente tocam, eu esperava que Daenerys voasse até a Fortaleza Vermelha e a colocasse abaixo. FIM. Mas não, os roteiristas fazem a mãe de dragões chorar e colocar fogo na cidade inteira. O episódio passeia durante longos minutos com os dragões destruindo a cidade, diversas cenas de morte por fogo e espada. Lindo e cansativo.

Claro que vamos odiar uma personagem que toma uma decisão como essa após uma rendição. Minha questão é, como já mencionei no texto do episódio anterior, Daenerys de todas as temporadas prévias já tomou decisões impiedosas, mas nunca nada parecido com isso. Ela invadiu cidades que não lhe agregariam em nada para salvas escravos, essa pessoa realmente mataria milhares de inocentes em um ataque de raiva? Você vai encontrar centenas de argumentos para o ataque na internet, nenhum me pareceu sólido o suficiente. Não vou me alongar nessa questão.

Para quem não queria ser a Rainha das Cinzas, me parece que é exatamente isso que Daenerys se tornará brevemente. Essa decisão abre precedentes para diversas teorias sobre o Trono de Ferro que envolvem principalmente Jon Snow, Sansa Stark, Tyrion Lannister e mais! Meu palpite é que Dany não sobrevive ao tal final agridoce amplamente anunciado.

Agridoce?

Sempre ficam aquelas questões de rodapé que precisam ser comentadas. Lá vamos nós:

Aquela conveniência de roteiro arretada: Euron desembarca justamente onde Jaime está e eles lutam mano a mano. Desnecessário, sem graça e forçado. Euron deu diversas facadas no abdômen de Jaime e ele segue até a Fortaleza tranquilamente para morrer com Cersei. Não dá mais pra aceitar essas coisas, gente.

Yara Greyjoy continua de boas nas Ilhas de Ferro esperando a tempestade passar.

Cadê o sempre grato por ter sido legitimado Gendry Baratheon? Não foi lutar com sua rainha?

Ponto para uma das visões de Bran se concretizando no rasante que o dragão dá sobre a cidade. Pelo menos né.

Veredito

A série atingiu o auge da falta de compromisso com a construção de personagens. A grandiosidade do momento e a beleza fotográfica não são suficientes pra salvar as incoerências de roteiro.

Não, eu não esperava um final feliz e prático, mas esperava o mínimo de qualidade no roteiro da série mais premiada da história da TV. Infelizmente a grandiosidade dos efeitos especiais e batalhas não é suficiente pra segurar uma história com trama essencialmente política e cheia de personagens profundos e igualmente importantes como Game of Thrones.

Certamente a magia do penúltimo episódio perfeito foi quebrada - já havia sido na sétima. Não sei vocês, mas mesmo com tanta ação, fogo e morte, o episódio não me provocou emoções sequer próximas a outros momentos decisivos da série.

O final agridoce vem e o problema não é o que acontece, mas os meios que estão levando a esse desfecho. Nem acredito que estamos vendo o teaser do último episódio da série. O desfecho de uma década de gelo e fogo a dias de distância, o último #domingot de nossas vidas vem aí e infelizmente a empolgação é decrescente.


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