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Microcosmos do Caos

Remarcadas por conta da pandemia, as eleições municipais se aproximam, rápidas como um meteoro. É delas que trata a crônica Microcosmos do Caos, do escritor Tiago Santos-Viera.


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Microcosmos do Caos

Um meteoro se aproxima da Terra. O impacto fulminante é certeiro, com mira no ex-país do futebol. Inclusive com data para ocorrer: 15 de novembro - possivelmente arrastando a devastação por mais um turno, culminando numa hecatombe em 29 do mesmo mês. Acabará num domingo, e depois em outro, e de novo, e de novo e... Calma, não é a quarta temporada de DARK. O Apocalipse segundo Jair... Ops! Segundo Jonas, não se dará pela pandemia. Porém sufocado em poeira cósmica eleitoreira.

Jovenzinhos, lembram/conhecem o Bug do Milênio? O Tio elucida: aquela proto-fake news, mezzo Matrix, mezzo Exterminador do Futuro, em que o mundo acabaria via computadores na virada 99/00. Hipoteticamente não haveria capacidade binária nas máquinas da época, na passagem do padrão numérico 1900 para 2000. No Réveillon, todos os HDs zerariam, apagando dígitos de contas bancárias, tornando o mundo um pandemônio e conseguinte extinção.

Tá, exagerei, mas a fake do Bug era mais ou menos isso. E como não dispúnhamos de cadeias twitterianas de destruição de mitos... Essa porra de Bug mexeu com a cabeça de muita gente nos anos 90, com a possibilidade de sua releitura ocorrer no cabalístico 2019/2020. Agora, talvez, o evento de destruição em massa oriundo do “new Bug” seria a vizinha Eleição Municipal - a primeira após uma Nacional totalmente decidida nas redes sociais.

E se o erro lógico de programação d’outrora transmutasse em um desvio psicossocial, com os binários zero e um impulsionando ondas locais de fake news, confundindo opiniões e implicando em duvidosas pesquisas? Teríamos um perfeito microcosmos do caos, a reprodutibilidade do que foi a última Eleição Nacional. Mesmo que em escala contida, a reverberação do pleito seria descomunal, já que cada microcosmos corresponde a uma das mais de 5.500 Prefeituras do país.

Este texto não é uma ode à desobediência civil. Nunca incentivaria o nobre leitor a deixar de escolher, ou justificar seu voto. Gastando vocabulário, votar é múnus público, um dever do cidadão para com o Estado e a coletividade. E mano: tenta tomar posse num concurso pra tu ver, sem seus canhotinhos de voto/justificativa... É uma treta só! Se bem que Tio Paulinho, depois de querer queimar/taxar os livros, resolveu que os servidores públicos são bruxas, devendo tostá-los na mesma fogueira. Não teremos novos concursos tão cedo. Mas isso é tema pra outra crônica, retomemos ao foco.

Aqui também não se contesta a idoneidade do último certame nacional. Foi legítimo, sem fraudes comprovadas, credibilizando os números que endossam o mandatário atual. Nossas eleições ainda são modelo mundo afora. Algo louvável, considerando a lama de falcatruas que nos sobe ao pescoço. Contudo, foi gritante a propagação de informações falsas nas Nacionais, cavalgando também nos binários zero e um das redes sociais. O Bug dessa vez foi no cérebro, que confuso, cravou nas urnas o sétimo número primo. Anda, deixa de ser preguiçoso! Pega aqui o conceitinho e faça as contas: são primos os números divisíveis apenas por um e ele mesmo. Dica: o primeiro é o dois.

Programações e matemáticas à parte, é fatídico que Prefeitos e Vereadores se tornam Deputados Estaduais, Federais e Senadores. É clara a visão dos raios caindo duas vezes no mesmo lugar. Se o comportamento de manada levou-lhe a ir com o bonde, arrependendo-se hoje do seu voto de dois anos atrás... Tens agora a chance de mudar as coisas, mesmo o pleito sendo local. Feito Teoria do Caos, o bater de asas de um conservador arrependido em um município pode futuramente causar um furacão de renovação no Congresso. Mas primeiro deves matar a charada dos números primos, descobrindo de quais teclas se desviar em novembro, nas urnas.

Sobre o autor: nascido na mitológica Caratinga (MG), Tiago Santos-Vieira fez voto de pobreza ao optar pelo Jornalismo (UFJF). Da miséria, passou à escravidão voluntária, trabalhando com periódicos em São Paulo (chegando a morar em um MOTEL). Foi um lapso temporal produtivo, com publicações nas revistas Rolling Stone, Trip/TPM, Riders e no Diário de Guarulhos. Fechado esse ciclo, voltou à Terra do Nunca, vulgo Caratinga, passando uma temporada trancafiado num quarto escuro. Quando viu a luz, fora aprovado em um concurso público e estava grávido de um livro. Foi então morar em Brasília, onde, após sanguinolenta gestação, pariu o suspense Elos do Mau Agouro. Torna agora a Minas, publicando o infantil As Aventuras do Super Careca e o suspense Dança das Bestas. Siga o Autor: @santosvieiratiago


Tags

tiago santos-vieira, crônica, politica, eleições


Escrito por

Tiago Santos-Vieira

Escritor e jornalista; é autor dos livros Dança das Bestas, Elos do Mau Agouro e As Aventuras do Super Careca. Foi colaborador das revistas Rolling Stone, Trip/TPM e é brother da Chico Rei.